O líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), identificou a causa principal do desentendimento público entre a ministra Gleisi Hoffmann e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, em torno do Projeto de Lei da Dosimetria. O texto, que reduz penas de participantes dos atos golpistas de 8 de janeiro, foi aprovado pelos senadores na quarta-feira, 17 de dezembro de 2025, e encaminhado para sanção presidencial.
O epicentro do conflito
Em conversa com jornalistas nesta quinta-feira, 18 de dezembro, Guimarães atribuiu o "bate-cabeça" a uma clara falta de diálogo entre a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o senador Jaques Wagner antes da votação da matéria. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, irritado com a aprovação do projeto, já indicou que deve vetar a proposta assim que ela chegar à sua mesa.
O parlamentar petista explicou que o problema não foi o conteúdo de um eventual acordo, mas sim o método. "O que ele [Jaques Wagner] fez foi um acordo de procedimento na CCJ. Não foi acordo de conteúdo. Nessas horas você tem que sentar e conversar. Me parece que faltou esse diálogo entre a ministra e ele", afirmou Guimarães.
O acordo que gerou atrito
O conflito começou a ganhar contornos públicos durante a análise do PL na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Jaques Wagner anunciou que havia feito um acordo de procedimento para destravar a votação de outra proposta, considerada prioritária pelo Executivo: o corte linear de benefícios fiscais e incentivos.
No entanto, esse acordo foi feito sem o aval prévio do Palácio do Planalto. Gleisi Hoffmann reclamou abertamente da estratégia adotada pelo líder do governo no Senado, afirmando que ele havia errado. Jaques Wagner, por sua vez, não gostou da publicidade da crítica e reagiu nas suas redes sociais, acirrando o embate.
Decisão final nas mãos de Lula
Questionado sobre o destino do projeto, José Guimarães foi enfático ao transferir a responsabilidade para o presidente da República. "Se vai vetar ou não, isso é tarefa do presidente [Lula]", declarou. Ele, no entanto, reiterou sua crítica ao encaminhamento dado no Senado, reforçando que houve um problema no método que poderia ter sido evitado com uma comunicação mais eficaz entre os principais articuladores do governo no Congresso.
A situação expõe uma fissura na coordenação política do governo Lula em um tema sensível: a dosimetria das penas para crimes cometidos durante os ataques golpistas às instituições democráticas. O desfecho agora aguarda a análise do Planalto e a decisão final do presidente, que já sinalizou sua contrariedade com a medida aprovada pelo Senado.