Uma complexa rede de conexões políticas sustentou por oito anos a operação temerária do Banco Master, que culminou em uma fraude bilionária com prejuízos para investidores e fundos de previdência do funcionalismo público. O caso, que veio à tona no final de 2025, expõe as entranhas do chamado "capitalismo de laços" no sistema financeiro brasileiro.
A estratégia de Daniel Vorcaro
O mineiro Daniel Vorcaro, de 42 anos, dedicou os últimos oito anos de sua vida a implementar uma receita extraída de manuais de autoajuda para o sucesso nos negócios. Sua estratégia consistia em três passos fundamentais: criar uma ampla rede de contatos políticos e empresariais, associar-se ao governo sempre que possível e repassar aos outros os riscos do seu negócio.
Desde 2017, Vorcaro e sua equipe trabalhavam na transformação do alquebrado Banco Máxima no maquiado Banco Master. O processo dependia não apenas da autorização do Banco Central, mas também de significativo apoio em Brasília para viabilizar a operação.
O desmonte da maquiagem financeira
A fachada cuidadosamente construída começou a ruir em 2020, quando o Banco Central recebeu os primeiros alertas sobre concorrência desleal nas operações do Master. A instituição pagava taxas de corretagem que chegavam ao triplo da média do mercado para vender títulos de liquidez duvidosa.
No réveillon de 2025, a situação tornou-se insustentável: o Banco Master tinha 50 bilhões de reais em títulos vendidos, mas não possuía caixa suficiente para honrar um quarto dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) que venciam.
Quem integrava a rede de apoio
A investigação revela nomes de peso que compunham a teia de relações do Banco Master:
- Michel Temer, ex-presidente da República
- Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal
- Ciro Nogueira, Arthur Lira e Antonio Rueda, líderes do bloco União Progressista
- Jaques Wagner, do PT
- Rui Costa, ministro da Casa Civil
- Walfrido Mares Guia e Flavia Peres, ex-ministros
- Ricardo Lewandowski, ex-presidente do STF
- Henrique Meirelles e Gustavo Loyola, ex-presidentes do Banco Central
Nenhum desses nomes teve participação direta nas fraudes, segundo as investigações até o momento, mas todos integraram o emaranhado de relações que, de alguma forma, garantiram a operação do banco com dinheiro de terceiros.
O capitalismo de laços em ação
O caso do Banco Master exemplifica o fenômeno descrito pelo pesquisador Sérgio Lazzarini como "capitalismo de laços", originalmente mapeado durante as privatizações dos anos 1990. A instituição se destacou pela ambição e ousadia nos vínculos interessados com sócios do poder.
Alguns políticos apareceram mais envolvidos, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o governador Ibaneis Rocha (MDB-DF). Outros mantiveram distância discreta, como o ministro Rui Costa e o senador Jaques Wagner.
A pergunta que ecoa no mercado financeiro e nos corredores do poder é: como se permitiu por oito anos a aventura de alto risco do grupo Master? A resposta parece estar no luxuoso investimento político feito por Vorcaro & Cia. na criação de uma rede de contatos, alianças e estratégias de apoio que se estendia por Brasília, capitais estaduais e principais colégios eleitorais de dezoito estados.
Assim como na lendária resposta de Picasso sobre Guernica, onde o artista atribuiu a autoria da obra aos próprios alemães que perpetraram o bombardeio, o caso Banco Master revela uma culpa coletiva nunca admitida - onde beneficiários dissimulam responsabilidade enquanto apontam para o aspirante a banqueiro que pagava cachês e comissões até quatro vezes acima da tabela usual da Faria Lima.