Em uma revelação que expõe as contradições do combate ao crime organizado no Brasil, documentos obtidos pela VEJA mostram que o governo Jair Bolsonaro chegou a considerar barrar uma medida que beneficiou justamente um dos maiores líderes do Comando Vermelho.
O plano secreto contra as facções
Nos bastidores do poder, o Ministério da Justiça desenvolvia um ambicioso plano antifacções quando se deparou com um dilema: impedir ou não a transferência de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcinho VP, para o presídio federal de Brasília.
Segundo apurou nossa reportagem, a pasta comandada por Anderson Torres chegou a incluir no documento a possibilidade de vetar esse tipo de benefício a integrantes de organizações criminosas. A medida, no entanto, foi rejeitada pela equipe ministerial.
Quem é Marcinho VP?
Considerado uma das mentes mais perigosas do crime organizado brasileiro, Marcinho VP é apontado como sucessor de Fernandinho Beira-Mar à frente do Comando Vermelho. Sua transferência para o complexo penitenciário da Papuda, em maio de 2022, foi vista por especialistas como uma significativa melhoria em suas condições carcerárias.
Entre os benefícios conquistados:
- Acesso a celas de maior conforto
- Maior facilidade para receber visitas
- Redução do isolamento severo
- Possibilidade de comunicação com o exterior
As contradições do combate ao crime
O caso expõe uma gritante contradição na política de segurança do governo Bolsonaro. Enquanto publicamente o ex-presidente se apresentava como o grande adversário das facções criminosas, internamente seu governo permitia que um dos maiores líderes do CV recebesse tratamento privilegiado.
"É a materialização do abismo entre o discurso e a prática no combate ao crime organizado", analisa um especialista em segurança pública que preferiu não se identificar.
O que dizem os documentos
Os papéis internos do Ministério da Justiça revelam que a equipe técnica alertava sobre os riscos de conceder benefícios a integrantes de alta periculosidade de facções. Apesar dos alertas, a transferência de Marcinho VP seguiu adiante, sem qualquer obstáculo por parte do governo federal.
Esta reportagem buscou o Ministério da Justiça e a defesa de Marcinho VP, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.