Fazenda de luxo vira epicentro de crise interna no PT
O prefeito de Maricá e vice-presidente nacional do PT, Washington Luiz Cardoso Siqueira, conhecido como Quaquá, encontra-se no centro de uma tempestade política após revelações sobre a Fazenda Cataguá, propriedade rural avaliada em R$ 19 milhões onde celebrou seu aniversário de 54 anos no fim de maio.
Celebração na fazenda milionária
A festa de aniversário de Quaquá aconteceu na Fazenda Cataguá, localizada no município de Três Rios, a aproximadamente duas horas da capital fluminense. Aos convidados, o prefeito apresentou a propriedade como adquirida recentemente por ele. O imóvel, descrito como "relíquia dos tempos do café", possui características luxuosas: 15 quartos distribuídos entre sede principal e casas de hóspedes, varandas amplas, capela, quadras esportivas e seis casas de colonos.
Disputa política traz caso à tona
A fazenda entrou no radar público após o secretário especial do governo Lula, André Ceciliano - integrante do grupo oposto ao de Quaquá no PT do Rio - fazer acusações públicas contra o prefeito. Em uma postagem sobre a propriedade, Ceciliano escreveu: "Bandido!!!", iniciando um embate público que revelou as tensões internas no partido.
Questionado sobre a origem dos recursos para aquisição da fazenda, Quaquá declarou um patrimônio de apenas R$ 207.858 ao Tribunal Superior Eleitoral no ano passado. Diante da discrepância, o prefeito afirmou que o dinheiro veio da venda de "parte do Camarote Favela", iniciativa de sua esposa, Gabriela Lopes Siqueira.
Contradições na compra
A versão de Quaquá enfrenta sérias contradições. O 1º Ofício de Registro de Imóveis de Três Rios não registra qualquer transferência de titularidade ou financiamento relacionado à propriedade. O prefeito explica que a operação foi feita "via contrato", em prestações, mas não soube informar o valor efetivamente pago.
Mais grave ainda: o suposto vendedor, Antonio Dias Leite Neto, nega categoricamente a existência da transação. "Não há documento que diga que a fazenda foi vendida. Não conheço Quaquá", afirmou à reportagem, acrescentando: "Nunca ouvi falar da presença dele lá."
Expansão empresarial da primeira-dama
O casamento com o prefeito, em março de 2023, marcou uma fase de expansão empresarial para Gabriela, de 32 anos. De professora concursada e revendedora de cosméticos Mary Kay, ela se tornou sócia de seis empresas no Brasil, incluindo uma pizzaria, uma marca de água mineral e uma corretora de imóveis. Em 2024, abriu ainda uma editora em Portugal com capital de 60 mil euros em sociedade com a sogra.
A empresa que opera o Camarote Favela na Marquês de Sapucaí, a Mais que Palavras Ltda, continua com Gabriela como única proprietária, com capital social de R$ 50.000, contradizendo a alegação de venda de parte do negócio.
Consequências políticas
O caso da Fazenda Cataguá expõe fissuras significativas no PT fluminense e levanta questões sobre o patrimônio de uma das principais lideranças do partido no estado. As contradições nas versões, a falta de documentação comprobatória e as negativas do suposto vendedor criam um cenário de crise política e jurídica para Quaquá, que pretende instalar uma vinícola na propriedade.
A situação permanece envolta em mistério, com o prefeito afirmando não ter "a mínima ideia" do motivo das contradições na história da compra, enquanto nenhum documento foi apresentado para comprovar sua versão dos fatos.