Família Bolsonaro rejeitou greve de caminhoneiros para não piorar situação de Jair
Família Bolsonaro foi contra greve de caminhoneiros

A convocatória para uma greve nacional de caminhoneiros na última quinta-feira, dia 4 de dezembro de 2025, não obteve adesão e fracassou em todo o território brasileiro. O movimento, que tinha como bandeiras principais a anistia aos presos do 8 de Janeiro e melhorias para a categoria, foi desmobilizado após avaliação da família do ex-presidente Jair Bolsonaro, conforme revelações do deputado Zé Trovão (PL-SC).

Fracasso da paralisação e justificativas

A paralisação havia sido anunciada publicamente pelo presidente da União Brasileira dos Caminhoneiros, Francisco Dalmora Burghardt, o Chicão Caminhoneiro, e pelo desembargador aposentado Sebastião Coelho. Entre as reivindicações estavam a criação de uma aposentadoria especial, a reestruturação do Marco Regulatório do Transporte de Cargas, maior estabilidade contratual e, de forma mais destacada, a anistia para os condenados pelos eventos de 8 de Janeiro de 2023.

No entanto, o protesto não se concretizou. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) emitiu um comunicado informando que não foram registrados incidentes ou bloqueios nas rodovias federais durante o dia. Zé Trovão, reconhecido como uma das principais vozes do setor no Congresso, atribuiu o fracasso a uma série de equívocos. Ele citou a convocação por lideranças que não teriam representatividade real, a escolha do período natalino e a fragilidade das pautas apresentadas como motivos para a baixa mobilização.

Pressão familiar contra a greve

Em entrevista, o parlamentar fez uma revelação significativa sobre os bastidores do movimento. Zé Trovão afirmou que discutiu a possibilidade de convocar uma greve dos caminhoneiros com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O objetivo seria pressionar o Congresso Nacional a votar um projeto de lei que concedesse anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Contudo, a resposta da família foi contrária à mobilização. Segundo o deputado, Michelle e Flávio Bolsonaro avaliaram que uma paralisação naquele momento específico poderia ser prejudicial e agravar a situação jurídica do ex-presidente. A preocupação central era a de que um novo caos logístico no país pudesse ser utilizado politicamente contra Bolsonaro.

Medo de retaliação do STF

Zé Trovão detalhou o raciocínio repassado por eles. "Os caminhoneiros bolsonaristas sabem que paralisar o Brasil agora para pressionar por anistia não vai resultar em nada positivo, porque isso pode acarretar em problemas para o próprio presidente Bolsonaro", declarou o deputado.

Ele continuou: "Conversei com a dona Michelle e com o senador Flávio sobre a percepção deles do que poderia acontecer se a gente convocasse uma greve de caminhoneiros para protestar contra a condenação do presidente. O sentimento que eles tinham é de que uma paralisação naquele momento não seria aconselhável".

O temor expresso pela família foi de uma possível retaliação por parte do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. A avaliação era de que um novo episódio de paralisação poderia servir de justificativa para medidas judiciais mais duras, inclusive a transferência de Jair Bolsonaro para um presídio de segurança máxima, piorando sensivelmente suas condições atuais.

Contexto e consequências políticas

O episódio ocorre em um momento de tensão política e judicial envolvendo o ex-presidente. A greve foi planejada para ser um ato de força, mas a intervenção da família Bolsonaro, preocupada com as consequências, teria sido um fator decisivo para seu esvaziamento. A revelação de Zé Trovão joga luz sobre os cálculos políticos e os receios que movem o núcleo mais próximo de Bolsonaro, que parece priorizar uma estratégia de não confronto direto que possa inflamar ainda mais o cenário institucional.

O fracasso da convocatória também expõe as divisões e a falta de unidade entre as diferentes lideranças que tentam mobilizar a categoria dos caminhoneiros, um grupo historicamente influente na política brasileira. A cautela da família Bolsonaro sinaliza uma tentativa de evitar qualquer ação que possa ser interpretada como uma afronta à ordem judicial estabelecida, enquanto busca caminhos legais e políticos para reverter as condenações.