Ex-diretor da PRF tentou fugir para El Salvador com passaporte falso
Ex-diretor da PRF tentou fuga para El Salvador

O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, planejou uma fuga para El Salvador na tentativa de escapar de uma pena de prisão de 24 anos e 6 meses, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A informação foi confirmada pela Polícia Federal nesta sexta-feira, 26 de janeiro.

A tentativa de fuga e a prisão no Paraguai

O plano de fuga de Silvinei Vasques não foi bem-sucedido. O ex-chefe da PRF foi capturado pelas autoridades no aeroporto de Assunção, capital do Paraguai. Na ocasião, ele tentava embarcar em um voo com destino a El Salvador utilizando um passaporte falso.

Com a prisão, Vasques agora será obrigado a cumprir a sentença à qual foi condenado. A condenação ocorreu porque ele usou a instituição policial a seu comando para servir a uma tentativa de golpe de Estado. O objetivo era manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder, através da obstrução do voto de eleitores no segundo turno das eleições.

A atração pelo modelo de El Salvador

A escolha de El Salvador como destino de fuga não é aleatória. O país, governado pelo presidente Nayib Bukele, tornou-se uma referência constante e um modelo idealizado por políticos da direita bolsonarista no Brasil. Eles enxergam na nação centro-americana uma propaganda bem-sucedida da política de segurança que desejam implementar por aqui.

É fato que os índices de criminalidade violenta em El Salvador despencaram nos últimos anos. No entanto, essa redução ocorreu sob um régime de exceção que já dura mais de três anos e meio. O custo foi alto: milhares de prisões arbitrárias de inocentes, violação de garantias constitucionais, julgamentos coletivos, perseguição à imprensa e um sério desmantelamento da estrutura democrática do país.

Além disso, investigações jornalísticas e oficiais sugerem que a queda da violência pode estar ligada a um pacto entre o governo e as gangues. Em setembro de 2020, o jornal El Faro, com base em relatórios de inteligência penitenciária, revelou que Bukele teria feito um acordo com a MS-13, a maior gangue do país. Em troca de benefícios carcerários, os criminosos manteriam os homicídios sob controle. Em dezembro de 2021, uma investigação do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos corroborou a informação e apontou que incentivos financeiros também foram oferecidos à MS-13 e à gangue Barrio 18.

A peregrinação bolsonarista e os "cliques" políticos

Essas nuances, porém, são ignoradas pela direita radical brasileira, que intensificou em 2023 as visitas a El Salvador. A justificativa é aprender sobre a política de segurança local, mas as viagens também renderam amplo material de campanha.

Em novembro, o senador Flávio Bolsonaro, o deputado federal cassado Eduardo Bolsonaro e o deputado Nikolas Ferreira reuniram-se em diferentes ocasiões com o ministro da Segurança Pública e Justiça de El Salvador, Gustavo Villatoro. Villatoro já é uma figura conhecida no campo bolsonarista, tendo participado por videoconferência de uma reunião na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados em maio de 2023, a convite do deputado Osmar Terra.

Após o encontro, Flávio Bolsonaro publicou: "A experiência salvadorenha prova que é possível derrotar a criminalidade. O Brasil tem jeito!". Nikolas Ferreira foi além e visitou o CECOT (Centro de Confinamento do Terrorismo), a maior prisão das Américas. Ele descreveu a experiência em suas redes sociais: "Fiquei frente a frente com os maiores bandidos do mundo. E sim, aqui os direitos humanos funcionam: sem privilégios, mordomias ou regalias para eles."

Outro político que se juntou à romaria foi o governador de Minas Gerais e presidenciável, Romeu Zema. Sua viagem com a comitiva, em maio, custou R$ 197 mil aos cofres do estado mineiro.

Com a segurança apontada como o principal problema do Brasil para 16% da população, segundo o Datafolha, é certo que o "modelo Bukele" continuará a ser uma bandeira eleitoral invocada pela direita radical nas próximas campanhas. A tentativa de fuga de Silvinei Vasques apenas escancara o nível de admiração e identificação que esse projeto político inspira em figuras condenadas por atentar contra a democracia brasileira.