Desembargador preso pela PF pediu ingressos para Flamengo a Bacellar
Desembargador pediu ingressos do Flamengo a Bacellar

Um pedido de ingressos para um jogo de futebol do Flamengo está no centro das mensagens trocadas entre o desembargador Macário Judice e o deputado estadual Rodrigo Bacellar. O magistrado foi preso pela Polícia Federal nesta terça-feira, 16 de dezembro de 2025, no âmbito das investigações sobre o vazamento de informações sigilosas para o crime organizado.

O pedido e a promessa

As investigações da PF, que apuram o elo do presidente afastado da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) com o vazamento de dados de operações policiais, revelaram uma troca de mensagens com pedidos de favores. Em uma delas, datada de 30 de novembro, o desembargador Macário Judice procurou o deputado Rodrigo Bacellar para solicitar ingressos para o jogo entre Flamengo e Ceará.

Na mensagem, o magistrado explicou que seu irmão, Rodrigo Judice, e seu sobrinho, Fernandinho, ambos torcedores fanáticos do clube, estariam indo ao jogo. "E eu queria ver se eu consigo atender ao meu sobrinho", escreveu Macário, completando com um "Um beijo grande e um excelente domingo pra vocês".

A resposta de Bacellar foi rápida e tranquilizadora. "Meu irmão, fica tranquilo que eu vou dar meu jeito, tá?", prometeu o deputado, dois minutos depois. Ele ainda detalhou que a Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (SUDERJ) o informaria sobre a quantidade exata de ingressos disponíveis no dia seguinte.

O contexto da investigação

O pedido aparentemente corriqueiro ganhou um peso investigativo enorme. As mensagens foram obtidas pela Polícia Federal durante as diligências que levaram à prisão do desembargador. O foco principal da operação é desvendar como informações sigilosas de investigações sobre o crime organizado vazaram para alvos dos inquéritos.

Rodrigo Bacellar, um político conhecido por suas amplas relações na capital fluminense, é apontado pelas investigações como uma peça central nesse esquema. O deputado foi afastado do cargo de presidente da Alerj e responde a processos por suposta atuação em benefício de facções criminosas.

A prisão de Macário Judice ocorreu justamente na esteira das investigações que apuram o elo de Bacellar com o vazamento de dados. As conversas, que também continham juras de amor e votos de afeto, mostram a intimidade entre o magistrado e o parlamentar, indo além de uma relação profissional formal.

As implicações do caso

O caso expõe uma prática considerada comum nos bastidores do poder no Rio de Janeiro: a troca de favores entre membros do Judiciário e do Legislativo. O pedido de ingressos, embora possa parecer banal, ilustra o tipo de relação que existia entre as partes agora investigadas por crimes graves contra a administração pública.

A promessa de Bacellar de "dar um jeito" para conseguir os ingressos através de um órgão público estadual (a SUDERJ) levanta questões sobre o uso de cargos e influência para benefícios pessoais. A investigação segue para apurar a extensão total da relação entre o desembargador e o deputado, e se favores como esse eram parte de um sistema de reciprocidade que incluía o vazamento de informações sensíveis.

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal devem apresentar novos desdobramentos do caso nas próximas semanas, à medida que analisam o conteúdo completo das conversas apreendidas.