Prisão preventiva de Bolsonaro marca capítulo histórico
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi conduzido à prisão preventiva pela Polícia Federal neste sábado (22), encerrando um período de 653 dias de investigações que começaram com a Operação Tempus Veritatis em fevereiro de 2024. A medida foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, com base no risco de fuga do ex-presidente após violação da tornozeleira eletrônica.
Linha do tempo do caso golpista
O processo que levou à prisão de Bolsonaro teve início em 8 de fevereiro de 2024, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Tempus Veritatis para investigar a existência de uma organização criminosa envolvida na tentativa de golpe de Estado de 2022. As investigações se basearam em material coletado no inquérito das milícias digitais e na delação do tenente-coronel Mauro Cid.
Em 12 de fevereiro de 2024, Bolsonaro passou dois dias na embaixada da Hungria em Brasília, logo após a PF apreender seu passaporte. A defesa alegou que se tratava de uma visita diplomática, sem intenção de fuga.
No dia 25 de fevereiro de 2024, o ex-presidente reuniu milhares de apoiadores na Avenida Paulista, em São Paulo, onde fez críticas ao TSE e STF e pediu anistia aos ataques golpistas de 8 de janeiro.
Condenação histórica e medidas restritivas
Em 11 de setembro de 2025, Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, sob acusação de liderar uma trama para permanecer no poder. A Primeira Turma do STF considerou o ex-presidente culpado pelos crimes de organização criminosa armada, abolição do Estado democrático de Direito, dano qualificado ao patrimônio público e deterioração do patrimônio tombado.
Desde 4 de agosto de 2025, Bolsonaro já cumpria prisão domiciliar por descumprir medida cautelar que o proibia de usar redes sociais, mesmo por intermédio de terceiros. O monitoramento foi intensificado em 26 de agosto, quando Moraes determinou que a polícia vigiasse a casa do ex-presidente 24 horas por dia.
Eventos que antecederam a prisão
Na madrugada deste sábado (22), Bolsonaro tentou avariar a tornozeleira eletrônica, segundo informações iniciais, batendo o dispositivo na escada. Posteriormente, ele teria dito a agentes que tentou abrir o equipamento com 'ferro quente'.
Outro fator que pesou na decisão de Moraes foi a vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, que aumentou os temores sobre risco de fuga para a embaixada dos EUA.
Os advogados de defesa haviam protocolado pedido para manter Bolsonaro em prisão domiciliar, alegando problemas de saúde do ex-presidente e risco à vida. Ele foi diagnosticado com câncer de pele em setembro e passou por procedimentos médicos.
Contexto internacional e repercussões
O caso Bolsonaro ganhou dimensão internacional quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs sobretaxa de 50% a produtos brasileiros em 9 de julho de 2025, relacionando a medida ao julgamento no STF. As sanções foram removidas apenas em 20 de novembro de 2025, após conversa entre Trump e o presidente Lula.
Em 30 de julho de 2025, os EUA sancionaram o ministro Alexandre de Moraes com a Lei Magnitsky, acusando-o de perseguir Bolsonaro e agir contra a liberdade de expressão.
Desfecho do processo golpista
Além de Bolsonaro, outros sete réus do chamado núcleo crucial da trama golpista foram condenados, com penas que variaram de 2 a 26 anos de prisão. Até o momento, 24 pessoas foram consideradas culpadas pelo STF no processo.
O único absolvido foi o general da reserva Estevam Theophilo, em 18 de novembro de 2025, por falta de provas. O tenente-coronel Mauro Cid, delator da operação, foi condenado a dois anos de reclusão em regime aberto e foi o único que não recorreu da sentença.
Os recursos de todos os outros condenados, incluindo Bolsonaro, foram rejeitados por unanimidade pela Primeira Turma do STF em 7 de novembro de 2025, consolidando uma das mais importantes decisões judiciais da história brasileira recente.