Bolsonaro completa 100 dias de prisão domiciliar sob temor de Papuda
Bolsonaro: 100 dias de prisão e crise política

Ex-presidente atinge marca simbólica sob ameaça de transferência para presídio

Nesta quarta-feira (12), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) completa cem dias em prisão domiciliar, um marco que ocorre em meio ao temor crescente de transferência para o presídio da Papuda, em Brasília, e a um evidente enfraquecimento político.

Cenário jurídico e apreensões

O primeiro recurso de Bolsonaro foi rejeitado pelos quatro integrantes da Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) em julgamento virtual que será oficialmente encerrado na sexta-feira (14). A defesa ainda tentará novos recursos, mas a expectativa no meio jurídico é de que a corte considere a ação encerrada até dezembro.

Integrantes da família Bolsonaro têm revelado a aliados que o ex-presidente está apreensivo com a possibilidade de regime fechado. A decisão final caberá ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, que condenou Bolsonaro a 27 anos e três meses por liderar a trama golpista de 2022.

Renato Bolsonaro, irmão do ex-presidente, declarou na última sexta (7) que, se Jair for mandado para a Papuda, "é porque a Justiça quer que ele morra na cadeia".

Rotina e saúde em declínio

Bolsonaro tem mantido uma rotina de exercícios físicos e feito piadas com visitantes, mas relatos próximos descrevem um homem cabisbaixo, que passa o dia de bermuda e chinelo. O ex-presidente se refere à tornozeleira eletrônica como "humilhação".

Amigos atribuem a piora em seu quadro de saúde diretamente à sua condição emocional, agravada pela proximidade da decisão final do STF. A possibilidade de transferência para a Papuda é hoje admitida por parte dos interlocutores do ex-presidente.

Crise política e disputas familiares

Os últimos meses foram marcados por disputas internas no grupo bolsonarista. Do racha do centrão com a direita no episódio do "tarifaço" imposto por Donald Trump - tendo Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como protagonista - à crise em Santa Catarina pela vaga ao Senado para 2026, envolvendo Carlos Bolsonaro (PL-RJ).

A permanência de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos tornou-se um fator de instabilidade para o grupo. De lá, ele reforça críticas a aliados, radicaliza o discurso e ameaça se lançar à Presidência, mesmo que à distância.

Enquanto o centrão e alas do PL defendem que Bolsonaro anuncie ainda neste ano um sucessor para 2026, os filhos do ex-presidente insurgem-se contra quem fala abertamente de eleição sem Bolsonaro, que além de preso está inelegível.

Michelle Bolsonaro e Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmaram nos últimos dias que o ex-presidente é o candidato em 2026, demonstrando a divisão interna.

Santa Catarina: novo foco de crise

Em Santa Catarina, um dos estados mais bolsonaristas do país, surge o mais recente foco de crise. O vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro pretende se lançar candidato ao Senado por Santa Catarina, por determinação do pai, que vê o filho mais protegido do Judiciário dessa forma.

O movimento barrou a pré-candidatura da deputada Carol de Toni (PL-SC), gerando acusações de infidelidade e traições em direção à deputada estadual e sua amiga Ana Campagnolo (PL-SC).

Consequências políticas

Os defensores da unidade argumentam que as brigas internas beneficiam o presidente Lula, que já melhorou nas pesquisas e é hoje o nome mais forte para 2026. Quando Bolsonaro foi preso, em agosto, o petista não estava tão bem posicionado.

No último mês, Lula ainda se aproximou de Trump, até então alinhado aos bolsonaristas, para negociar as tarifas impostas a produtos brasileiros. O discurso de soberania e defesa do Brasil é visto como um trunfo pelo Palácio do Planalto, porque custou boa parte da popularidade do bolsonarismo.

Se for efetivada a transferência de Bolsonaro para o regime fechado, a expectativa é de mobilização restrita de apoiadores. Não houve nenhuma organização nesse sentido até o momento, diante da dificuldade de articulação do grupo com o líder preso e da disputa por seu espólio eleitoral.