Os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro intensificaram nos últimos dias uma mobilização contra a possibilidade de ele ser transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda. O movimento ocorre diante da expectativa de que o Supremo Tribunal Federal defina nas próximas semanas o local onde Bolsonaro cumprirá os 27 anos e três meses de prisão pelos crimes de tentativa de golpe.
Condenação e prazos se aproximam
Jair Bolsonaro já está condenado a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe e atualmente cumpre pena em regime domiciliar há mais de 100 dias. A medida foi imposta após o descumprimento de medidas cautelares determinadas ao longo do processo judicial.
A expectativa no meio jurídico é que os recursos contra a condenação se esgotem até dezembro deste ano, quando o ex-presidente passará a cumprir a pena de forma definitiva. O STF já realizou vistorias no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, para avaliar as condições do local.
Estratégia política da vitimização
Segundo informações obtidas com pessoas próximas ao ex-presidente, os aliados projetam um clima de vitimização que, em tese, geraria uma comoção popular capaz de fortalecer politicamente Bolsonaro. Um dos aliados mais próximos chegou a afirmar que "se o colocarem na cadeia, ele sobe para 55% nas pesquisas".
Conforme esse cálculo político, a população tenderia a acreditar que o ex-presidente sofre perseguição judicial, o que poderia fortalecer um representante da família Bolsonaro em futuras disputas eleitorais - sejam os filhos Flávio e Eduardo ou a ex-primeira-dama Michelle.
Preocupações com a saúde
Pessoas próximas a Bolsonaro manifestaram preocupação tanto com sua saúde física quanto mental. O ex-presidente tem a saúde fragilizada em decorrência das diversas cirurgias realizadas após o atentado a faca que sofreu em 2018.
O efeito psicológico também é apontado como motivo de preocupação, especialmente desde o início do cumprimento da pena em regime domiciliar. Aliados afirmam que o ex-presidente já estaria abalado com as restrições atuais.
Cenário político dividido
Enquanto os bolsonaristas trabalham para evitar a transferência para um presídio comum, políticos do Centrão rechaçam a possibilidade de uma candidatura da família Bolsonaro nas próximas eleições e defendem um nome alternativo.
Pesquisa Quaest divulgada na quinta-feira, 13 de novembro, mostrou uma recuperação na avaliação de Bolsonaro, apesar de estar preso e inelegível. O ex-presidente registrou 39% das intenções de voto num eventual segundo turno com o presidente Lula, que teve 42%.
Por outro lado, entre governistas há uma leitura de que, após 100 dias de prisão domiciliar, os apoiadores já teriam digerido o desfecho e tratariam Bolsonaro como uma página virada - justamente o cenário temido por seus aliados.
A decisão final sobre o local do cumprimento da pena caberá ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que deve se pronunciar sobre o caso nas próximas semanas.