O cenário político na Câmara dos Deputados ganhou um novo protagonista após a saída forçada de uma das figuras mais polarizadoras da legislatura. Com a renúncia de Carla Zambelli (PL-SP), que antecedeu uma ordem de cassação do Supremo Tribunal Federal (STF), quem assume o seu lugar é um nome com profundas raízes no bolsonarismo e uma história peculiar de ligação com o clã do ex-presidente: Adilson Barroso (PL-SP).
Da renúncia à posse: a sequência de eventos
A deputada federal Carla Zambelli renunciou oficialmente ao seu mandato no último domingo, 14 de dezembro de 2025. A decisão foi uma antecipação ao cumprimento de uma ordem de cassação, firmada na sexta-feira anterior, dia 12, por unanimidade pelos ministros da Primeira Turma do STF.
A cassação foi consequência direta de duas condenações criminais da parlamentar. A primeira, por financiar e coordenar uma invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A segunda, por perseguir um homem negro, apoiador do ex-presidente Lula, com uma arma em mãos, nas ruas do bairro dos Jardins, em São Paulo, às vésperas do segundo turno das eleições de 2022.
Embora a Câmara dos Deputados tenha tentado preservar o mandato de Zambelli, a decisão foi revertida pela Suprema Corte. O STF não apenas ordenou a cassação imediata, como também determinou que o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), nomeasse o seu suplente.
Quem é Adilson Barroso, o substituto "bolsonarista raiz"
Adilson Barroso, de 61 anos, é descrito como um "bolsonarista raiz" e está longe de ser um novato na política. Sua carreira começou nos anos 1980, como vereador em Barrinha, um município da região metropolitana de Ribeirão Preto (SP) que hoje possui pouco mais de 32 mil habitantes.
Sua trajetória inclui passagens pelo cargo de vice-prefeito da mesma cidade, em 1996, e de deputado estadual, eleito em 2002. No entanto, os anos seguintes foram marcados por sucessivas derrotas em eleições, com Barroso conseguindo, em algumas ocasiões, apenas uma vaga como suplente.
O político tem um histórico de fundação e participação em partidos que marcaram a cena política recente. Em 2012, foi um dos fundadores do PEN (Partido Ecológico Nacional) – fato que ainda ecoa em seu perfil nas redes sociais, onde mantém a palavra "ambientalista" ao lado do sobrenome.
Posteriormente, passou pelo PSL, legenda que elegeu Jair Bolsonaro à Presidência em 2018, e se tornou um dos fundadores do Patriota. Foi neste partido que sua trajetória se entrelaçou de forma mais intensa com a família Bolsonaro.
A conexão com Bolsonaro e a saída do Patriota
O Patriota chegou a ser considerado uma possível casa eleitoral para Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, quando ele já ocupava o Palácio do Planalto. Em maio de 2021, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chegou a se filiar ao partido, em um movimento visto como um teste.
Adilson Barroso, então presidente da sigla, foi acusado de fazer mudanças no estatuto partidário justamente para atrair o ex-presidente. O plano, no entanto, não vingou. Em julho de 2021, Barroso foi afastado da direção do Patriota sob essas acusações. Em setembro do mesmo ano, o afastamento tornou-se definitivo e ele foi removido de todos os cargos diretivos, mantendo apenas a filiação.
Na época, Barroso defendeu-se, alegando ser vítima de uma manobra de um correligionário. Após o episódio, migrou para o PL (Partido Liberal), legenda de Jair Bolsonaro, e abraçou publicamente a bandeira bolsonarista. Foi nesta condição que se elegeu, em 2022, como suplente da chapa de Carla Zambelli.
O que esperar do novo mandato
A ascensão de Adilson Barroso ao plenário da Câmara consolida a bancada bolsonarista, substituindo uma deputada conhecida por atos de grande repercussão e confronto por outra com um perfil mais ligado às articulações partidárias e de bastidor.
Sua experiência política, que passa pela fundação de partidos e por tentativas de aliança estratégica com o núcleo bolsonarista, sugere que ele deve atuar para fortalecer a base de apoio a Jair Bolsonaro e seus aliados no Congresso. A vaga que assume está imersa em polêmas jurídicas e políticas, e seu titular anterior deixou o cargo sob a sombra de condenações criminais.
A posse de Barroso encerra um capítulo turbulento do mandato de Zambelli, mas abre outro, com um deputado que carrega consigo uma história própria de disputas internas, fundações partidárias e uma ligação antiga e direta com o projeto político do bolsonarismo.