Um vereador com cinco mandatos consecutivos foi preso nesta terça-feira (25) acusado de manter relações com uma das maiores facções criminosas da Baixada Fluminense. A operação que resultou na prisão de Ernane Aleixo (PL) revela uma teia de favorecimentos entre política e crime organizado que chocou a região.
Áudios comprometedores
As investigações da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD) descobriram conversas gravadas que conectam diretamente o parlamentar ao tráfico. Marlon Henrique da Silva, conhecido como Pagodeiro, preso no ano passado e apontado como braço direito do chefe do Terceiro Comando Puro (TCP) na Baixada, Geonário Fernandes Pereira Moreno (Genaro), mantinha diálogos explícitos sobre o vereador.
Em um dos áudios obtidos pela polícia, Pagodeiro deixa claro o nível de proximidade: "O que precisar dele também — é o que ele tava falando — pode acionar que ele ajuda, entendeu? Precisa de alguma coisa de material para botar barricada, o que precisar ele é vereador eleito e tá vindo de novo".
Outro trecho revela que o parlamentar chegou a oferecer auxílio na contratação de funcionários: "E outra coisa, inclusive ele [Ernane] até mandou mensagem aqui para mim ontem para perguntar se tava querendo botar alguém para trabalhar. Bagulho de nomeação, que ele tá com uma vaga lá".
Troca de favores e equipamentos
As investigações mostram que o acordo entre o vereador e a facção envolvia apoio logístico em troca de vantagens políticas e eleitorais. Segundo os investigadores, Ernane Aleixo disponibilizava equipamentos e intermediaba benefícios na área dominada pelo tráfico.
Prints de conversas no WhatsApp obtidos pela polícia mostram uma negociação específica sobre máquinas. O vereador nega ceder um equipamento da prefeitura, mas oferece uma alternativa: "Mas a máquina é da prefeitura e usá-la para rasgar rua dá ruim, entendeu? Para mim também, porque depois eu não vou conseguir retornar com ela aí para a região para atender às demandas dos moradores. Porém, se você quiser emprestado, eu tenho o martelete".
Defesa e outras prisões
Na Cidade da Polícia, onde foi levado após a prisão, Ernane Aleixo negou todas as acusações. "Eu nunca tive nada a ver com o tráfico. A minha vida sempre foi limpa 100%", declarou o vereador, que acumula cinco mandatos consecutivos na Câmara Municipal de São João de Meriti.
Além do parlamentar, a Polícia Civil prendeu Luciana Adelia Theofilo, esposa de Pagodeiro, aprofundando as investigações sobre as conexões entre o grupo criminoso e o poder público.
Em sua biografia oficial, Ernane se apresenta como "homem simples, cristão e do povo" e destaca seu trabalho em causas sociais e recuperação de praças. Nas redes sociais, mantinha postura de proximidade com os eleitores, prometendo transformar a cidade em "um lugar mais acolhedor para todos".
