A Polícia Civil da Bahia obteve um vídeo crucial que mostra um dos momentos que antecederam o assassinato de três técnicos de internet em Salvador. Nas imagens, um traficante do facção Bonde do Maluco (BMD) se confunde ao avistar o que acredita ser uma câmera de vigilância instalada em um poste no bairro de Marechal Rondon. O caso, que chocou a capital baiana, expõe a ação violenta do crime organizado contra trabalhadores.
Confusão com fios de fibra ótica levou à execução
O delegado-geral da Polícia Civil, André Viana, em entrevista ao programa Bahia Meio Dia, da TV Bahia, esclareceu que não havia câmera alguma no local. As investigações apontaram que os funcionários Ricardo Antônio da Silva Souza, 44 anos, Jackson Santos Macedo, 41, e Patrick Vinícius dos Santos Horta, 28, estavam instalando apenas fios de fibra ótica. Os traficantes, no entanto, interpretaram os equipamentos como dispositivos de monitoramento.
No vídeo, o criminoso alerta um comparsa: "Aí 'Badalo', na ladeira, ó? Uma câmera alí, ó? Tá vendo alí no fio? Olha uma lá, de frente para mim, me monitorando". O alerta foi direcionado a Jeferson Caíque Nunes dos Santos, o "Badalo", que viria a morrer em um confronto com a polícia no domingo, 21 de abril.
Mandantes presos e um foragido
As investigações do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) indicam que o crime contou com a participação de pelo menos 11 integrantes do Bonde do Maluco. Três dos quatro mandantes identificados já estão presos: Jorge Ferreira Santos (Capenga), Venício Bacelar Costa (Fofão) e Antônio Dias de Jesus (Colorido). Eles teriam "autorizado" o assassinato a partir da prisão, após a falsa denúncia sobre as câmeras.
Um quarto homem, Edson Silva de Santana, o "Jegue", também é apontado como mandante e continua foragido. Ele já integrou o "Baralho do Crime", catálogo dos foragidos mais perigosos da Bahia. Além de "Badalo", outro suspeito, Jonatas Amorim Nascimento, foi preso. Um menor, que atuou como olheiro, também se apresentou à Delegacia Para o Adolescente Infrator (DAI).
Vítimas eram trabalhadores em início de carreira e pais de família
Os três técnicos foram encontrados na terça-feira, 16 de abril, no bairro Alto do Cabrito, no subúrbio de Salvador, com marcas de tiros e as mãos e pés amarrados. Eles usavam fardamento da empresa e se preparavam para um serviço em Marechal Rondon quando foram abordados.
Patrick Vinícius estava apenas no segundo dia de trabalho. Pai de um menino de 7 anos, morador de Castelo Branco, ele era lutador de jiu-jítsu e estava desempregado há seis meses antes da nova oportunidade. Foi sepultado no Cemitério Vale da Saudade, em Candeias.
Ricardo Antônio, que trabalhava há três anos como motorista e instalador, deixou uma filha de 14 anos. Era conhecido por sua dedicação ao trabalho. Jackson Santos, casado e pai de um jovem de 19 anos, usou o carro particular para chegar ao serviço no dia do crime. O veículo foi roubado e encontrado posteriormente no bairro de Pirajá. Ricardo e Jackson foram enterrados no Cemitério Bosque da Paz.
O caso segue sob investigação da Polícia Civil da Bahia, que busca prender os envolvidos restantes e elucidar todos os detalhes da execução que tirou a vida de três trabalhadores.
