O prefeito de Turilândia, Paulo Curió (União Brasil), decidiu se entregar às autoridades na manhã desta quarta-feira (24), após passar dois dias foragido da Justiça. Com a sua rendição, a Polícia cumpriu integralmente os mandados de prisão expedidos, que atingiram também a vice-prefeita Tânia Mendes e todos os 11 vereadores da cidade maranhense.
Esquema milionário de desvio de verbas públicas
A prisão em massa é resultado da Operação Tântalo II, deflagrada na última segunda-feira (22) pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público do Maranhão. As investigações apontam um desvio de R$ 56.328.937,59 dos cofres públicos do município.
Segundo o promotor Fernando Berniz, do GAECO, o prefeito Paulo Curió liderava uma organização criminosa que contava com o apoio integral da Câmara Municipal. "Na Câmara, todos os vereadores faziam parte do esquema, recebendo dinheiro desviado diretamente ou através de parentes", afirmou o representante do Ministério Público.
Como funcionava a fraude
O mecanismo de corrupção foi estruturado em torno de contratos fraudulentos com empresas de fachada. Entre as empresas citadas nas investigações estão Posto Turi, SP Freitas Júnior Ltda, Luminer Serviços Ltda, MR Costa Ltda e outras. Elas funcionavam como "laranjas" para canalizar o dinheiro público para os integrantes do esquema.
Um dos casos mais emblemáticos envolve o Posto Turi, de propriedade de Marlon Zerrão, tio da vice-prefeita Tânia Mendes. A empresa recebeu sozinha mais de R$ 17 milhões dos cofres municipais. De acordo com o MP-MA, havia um acordo para que 10% dos valores dos contratos fossem retidos para custear a faculdade de medicina da ex-vice-prefeita Janaína Lima, esposa de Marlon. Os 90% restantes eram repassados ao prefeito ou a seus indicados.
Além disso, a organização usava essas empresas para emitir notas fiscais falsas, fraudando licitações e pagamentos do município. A atual vice-prefeita e seu marido são investigados por receber valores provenientes dessas transações ilícitas.
Prisões e consequências imediatas
Após a prisão, o prefeito Paulo Curió e a vice Tânia Mendes foram encaminhados para a Unidade Prisional de Ressocialização de Pedrinhas, em São Luís, onde cumprirão prisão preventiva. Já os 11 vereadores tiveram a prisão convertida para domiciliar ou uso de tornozeleira eletrônica.
O promotor Fernando Berniz explicou a decisão: "A Justiça preferiu transformar as prisões dos vereadores em domiciliar ou tornozeleira para não interromper as atividades em Turilândia, já que agora o presidente da Câmara terá que assumir o cargo de prefeito".
A operação cumpriu 51 mandados de busca e apreensão e 21 mandados de prisão em diversas cidades do Maranhão, incluindo São Luís, Paço do Lumiar e Vitória do Mearim. Os crimes investigados são organização criminosa, fraude à licitação, corrupção ativa e passiva, peculato e lavagem de dinheiro, supostamente praticados entre 2021 e 2025.
A Operação Tântalo II é um desdobramento de investigações anteriores realizadas pelo GAECO em fevereiro deste ano. O g1 tentou contato com os acusados, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.