A Polícia Civil deflagrou uma operação que resultou na prisão de cinco pessoas em Rondonópolis, Mato Grosso, nesta terça-feira (2). A ação, batizada de Operação Cura Ficta, investiga um grupo criminoso que aplicava golpes contra familiares de pacientes hospitalizados no Rio Grande do Sul, se passando por médicos e administradores de hospitais para exigir pagamentos via PIX.
Esquema cruel e detalhado
De acordo com as investigações, os criminosos ligavam para as vítimas usando nomes falsos e fotos roubadas da internet para dar credibilidade. Eles informavam um suposto agravamento no estado de saúde do paciente internado, citando doenças como leucemia ou infecções bacterianas graves. Em seguida, afirmavam que exames e medicamentos urgentes não eram cobertos pelo plano de saúde e exigiam pagamentos imediatos.
O que tornava o golpe especialmente convincente era o acesso a informações em tempo real sobre o quadro clínico das vítimas. Isso permitia que os golpistas descrevessem procedimentos, horários e detalhes do atendimento com precisão, aumentando a credibilidade da abordagem.
Estrutura financeira e vínculo com facção
Os cinco detidos em Rondonópolis, cidade localizada a 218 km de Cuiabá, não aplicavam os golpes diretamente, mas integravam a estrutura financeira do esquema. Eles eram responsáveis pelo recebimento, movimentação e repasse do dinheiro obtido ilegalmente, administrando contas bancárias e auxiliando no fluxo financeiro.
A polícia afirma que os valores extorquidos das famílias gaúchas eram direcionados para integrantes de uma facção criminosa com base em Mato Grosso. Para lavar o dinheiro e esconder a identidade, os suspeitos usavam mais de 120 chaves PIX diferentes e uma complexa rede de contas bancárias.
Comando a partir da prisão e técnicas sofisticadas
Um dos aspectos mais chocantes revelados pela investigação é que o líder do esquema é um detento de 35 anos, preso na Penitenciária Major PM Eldo Sá Corrêa, em Rondonópolis. Mesmo atrás das grades, ele comandava as ligações e a logística do golpe. Em buscas anteriores, a polícia já havia apreendido dentro de sua cela cadernos com roteiros completos do crime, dados bancários e listas telefônicas.
O grupo também utilizava tecnologia para dificultar a identificação. Foram encontrados emuladores de Android em computadores, que permitiam simular vários celulares ao mesmo tempo. Com essa ferramenta, um único criminoso conseguia operar múltiplas contas de WhatsApp e aplicativos bancários simultaneamente.
Alcance nacional e prejuízos
A operação teve alcance nacional. Além das cinco prisões em Rondonópolis, outras duas ocorreram nos estados de Goiás e Rio de Janeiro. Ao todo, foram cumpridos nove mandados de prisão preventiva e 13 de busca e apreensão nos três estados envolvidos.
Pelo menos 30 pessoas no Rio Grande do Sul foram vítimas do golpe, com prejuízos individuais que variam de R$ 3,8 mil a R$ 11,7 mil. O Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers) destacou a gravidade do crime, que atingia famílias já fragilizadas pela situação de saúde de seus entes, muitas vezes pacientes de hospitais públicos e do SUS.
A polícia ainda investiga como os criminosos obtinham informações detalhadas e em tempo real sobre os pacientes. Os investigados respondem pelo crime de estelionato e os presos em Rondonópolis já foram encaminhados à delegacia da cidade, onde ficarão à disposição da Justiça.