Uma organização criminosa especializada em empréstimos ilegais com juros extorsivos, conhecida como "cobro", teve parte de seus métodos expostos após a abertura de um cofre blindado apreendido pela polícia. A ação faz parte da Operação Cobro Final, deflagrada no último dia 11 de dezembro.
O conteúdo revelador do cofre
Na tarde desta segunda-feira (15), investigadores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Amapá (MP-AP), com apoio da Polícia Federal, conseguiram abrir o cofre. O equipamento havia sido apreendido na casa de um colombiano apontado como líder do esquema.
Dentro do cofre, as autoridades encontraram um conjunto de itens que evidenciam as atividades ilícitas do grupo. A lista inclui:
- R$ 118.760 em dinheiro vivo;
- Contratos de aquisição de imóveis usados em benefício da organização;
- Cartões utilizados especificamente para a prática da agiotagem;
- Diversas munições, tanto de uso restrito quanto permitido;
- Documentos pessoais de indivíduos que fizeram empréstimos com os investigados.
"Em seu interior também foram encontradas diversas munições de uso restrito e permitido, além de outros contratos de pessoas que fizeram empréstimos em dinheiro com os investigados", detalhou a promotora de justiça e coordenadora do Gaeco, Andréa Guedes.
Esquema violento e milionário
A investigação, que começou a partir de uma denúncia anônima, revelou um sistema criminoso sofisticado e violento. A operação cumpriu mandados de busca, apreensão e prisão preventiva nas cidades de Macapá (AP) e Teresina (PI).
O grupo, formado majoritariamente por colombianos, operava com empréstimos irregulares cobrando juros diários abusivos. As investigações apontam que:
Os agiotas utilizavam métodos violentos de cobrança, ameaçando a integridade física e a vida dos devedores em caso de atraso.
Quando uma vítima não conseguia pagar, bens materiais eram tomados à força como forma de quitar a dívida.
O volume financeiro movimentado pela organização é colossal: mais de R$ 60 milhões entre 2023 e 2025.
Para esconder a origem ilícita do dinheiro, o grupo mantinha um esquema de lavagem de capitais. Eles utilizavam empresas de compra e aluguel de veículos e contas de "laranjas" para pulverizar os valores e dar uma aparência legal aos lucros.
Próximos passos da investigação
A abertura do cofre e a análise minuciosa do material apreendido representam um avanço significativo nas investigações. Os documentos e contratos encontrados devem fornecer novas linhas de apuração e ajudar a identificar mais vítimas e outros envolvidos no esquema.
A operação segue em andamento, com as autoridades focadas em desmantelar completamente a rede criminosa, responsabilizar seus integrantes e buscar a recuperação dos valores desviados. A descoberta das munições também amplia o leque de crimes investigados, potencialmente incluindo porte ilegal de arma de fogo.
O caso evidencia a atuação de grupos criminosos transnacionais no Brasil e a importância da cooperação entre órgãos, como o Gaeco e a Polícia Federal, para combater delitos financeiros complexos associados à violência.