
Era pra ser mais um dia comum na floresta. Mas o cheiro de pólvora e o silêncio pesado denunciavam: algo terrível acontecera ali, naquela curva esquecida do rio, onde o Pará e o Amapá se encontram como vizinhos desconfortáveis.
Cinco corpos. Cinco histórias interrompidas pela ganância que move o garimpo ilegal na região. As vítimas? Garimpeiros, dizem. Ou seriam peões num jogo muito maior? A polícia ainda tenta desvendar, mas todo mundo por ali sabe como essas coisas funcionam - ou melhor, como falham miseravelmente.
O mapa do crime
Não é difícil entender por que essa área virou um barril de pólvora. Imagine só: fronteira entre dois estados, fiscalização frágil, rios que servem de estradas para o ouro ilegal. Uma receita pronta para o desastre.
- Rota do contrabando: O ouro segue rio abaixo, mas o sangue fica
- Território disputado: Dois estados, nenhuma lei
- Economia do crime: Máquinas pesadas valem mais que vidas humanas
Os investigadores encontraram algo perturbador: marcas de pneus de escavadeiras perto dos corpos. Máquinas caríssimas, dessas que custam milhões. Quem manda nesse negócio não é qualquer zé ruela com peneira na mão.
O silêncio que fala
Nas comunidades ribeirinhas, o medo instalou-se feito névoa matinal. "A gente vê, mas finge que não viu", confessou um morador, olhando por cima do ombro enquanto falava. Ele pediu para não ser identificado - quem é louco de arriscar a própria pele?
E não é pra menos. Nos últimos dois anos, mais de 30 assassinatos ligados ao garimpo foram registrados na região. Só que registros são uma coisa; investigações concluídas, outra bem diferente. A sensação é de que a lei simplesmente desistiu de entrar naquela parte da floresta.
O jogo de empurra-empurra
Aqui vai o que me deixa com os cabelos em pé: enquanto os estados brigam sobre de quem é a responsabilidade, os criminosos agem à vontade. O Amapá diz que o crime ocorreu do lado do Pará. O Pará rebate que as vítimas eram do Amapá. Enquanto isso, os verdadeiros responsáveis devem estar rindo à toa, contando o dinheiro.
E o pior? Esse massacre pode ser só o começo. Com a alta do preço do ouro, a disputa por essas terras está mais acirrada do que briga de vizinho por cerca. Só que aqui não se trata de alguns palmos de terra - é uma guerra por pedaços da Amazônia.
Até quando? Difícil dizer. Mas uma coisa é certa: enquanto o garimpo ilegal for mais lucrativo que o trabalho honesto, a floresta continuará sangrando. E não, não é metáfora - é a triste realidade que teima em se repetir.