Operação Mão de Ferro prende advogada e sargento por agiotagem e tortura em Goiás
Advogada e sargento presos por agiotagem e tortura em GO

Uma operação policial de grande impacto desmantelou na última sexta-feira (28) uma organização criminosa suspeita de agiotagem, extorsão, lavagem de dinheiro e tortura na região de Luziânia, no Entorno do Distrito Federal, em Goiás. A Operação "Mão de Ferro" resultou na prisão de nove pessoas, incluindo uma advogada, policiais militares e empresários.

Vítimas sofriam ameaças e agressões físicas

Segundo a Polícia Civil de Goiás, o grupo oferecia empréstimos com juros abusivos e utilizava métodos extremamente violentos para realizar as cobranças. Testemunhas relataram às autoridades terem sido intimidadas com armas de fogo, ameaçadas e até agredidas fisicamente, vivendo sob medo constante e pressão psicológica.

Provas contundentes do modus operandi do grupo foram obtidas pela TV Anhanguera. Os vídeos mostram o sargento da Polícia Militar Herbert Francisco Póvoa, conhecido como Mike Póvoa, e sua esposa, a advogada Tatiane Meireles, ameaçando e agredindo uma vítima com um taco de beisebol. Em uma das cenas, o militar é ouvido dizendo: "Você vai ver como funciona em Goiás".

Outras imagens são ainda mais chocantes. Em um segundo vídeo, Póvoa aparece ameaçando um homem com duas armas de fogo, enquanto ordena que ele se ajoelhe. Há ainda registros do sargento ameaçando mulheres durante cobranças, chegando a enforcar uma e a apontar uma arma para a cabeça de outra.

Esquema movimentou milhões e envolveu familiar

A investigação aponta que a organização criminosa movimentou mais de R$ 7 milhões em apenas dois anos. A advogada Tatiane Meireles, que paradoxalmente presidia a Comissão de Direitos Humanos da OAB Subseção de Luziânia, teria atuado na "blindagem jurídica" do grupo e participado ativamente das cobranças violentas.

Os detalhes do esquema envolvem até mesmo familiares. De acordo com depoimentos de parentes que preferiram não se identificar, o tio da advogada Tatiane teve seu nome usado para abrir uma conta bancária após não conseguir pagar um empréstimo feito pelo próprio sargento Mike Póvoa. O idoso, que vive de aposentadoria e de um pequeno bar, teria feito o empréstimo para quitar outra dívida, mas os juros cobrados o impediram de honrar o compromisso.

Sem saber das reais finalidades, o tio da advogada abriu a conta a pedido do sargento, mas não tinha acesso a ela. O caso exemplifica como o grupo recrutava ou se aproveitava de pessoas próximas para suas operações financeiras irregulares.

Instituições se posicionam e investigados seguem presos

As repercussões do caso foram imediatas. A Polícia Militar de Goiás (PM-GO) emitiu nota informando que os militares envolvidos foram presos e que a corporação não compactua com desvios de conduta, adotando as medidas administrativas cabíveis. A instituição afirmou colaborar integralmente com as investigações.

A Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB-GO) foi ainda mais enfática. Em comunicado, a entidade repudiou veementemente o suposto envolvimento da advogada, classificando a conduta como "absolutamente incompatível com a ética, a dignidade e os princípios que regem a advocacia". Como medida imediata, determinou o afastamento preventivo de Tatiane Meireles de suas funções institucionais e instaurou procedimento ético-disciplinar para apurar os fatos.

A defesa da advogada, por sua vez, divulgou uma nota respeitando o sigilo das investigações, mas afirmando acreditar que "a verdade prevalecerá no tempo adequado, restabelecendo a justiça, a serenidade e a integridade profissional" de sua cliente. O g1 não obteve contato com a defesa do sargento Herbert Póvoa.

Os investigados passaram por audiência de custódia no sábado (29) e permanecem presos. Eles devem responder por uma série de crimes, incluindo organização criminosa, usura (agiotagem), extorsão, lavagem de dinheiro e tortura. A operação, que mobilizou cerca de 80 policiais civis, cumpriu mais de 10 mandados de busca e apreensão e nove de prisão, atingindo o líder do esquema, financiadores e executores das cobranças violentas.