Uma pesquisa realizada pela Cufa Nacional revela dados alarmantes sobre o perfil de jovens envolvidos com o tráfico de drogas em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro. O estudo, conduzido entre 15 de agosto e 20 de setembro de 2025, expõe as difíceis realidades que levam adolescentes e adultos ao mundo do crime.
Retrato da vulnerabilidade social
Os pesquisadores identificaram um padrão preocupante entre os jovens entrevistados. A maioria foi criada por avós ou outros parentes, com mães que tiveram filhos muito cedo e sem estrutura adequada. Muitos começaram fazendo pequenos serviços para conseguir algum dinheiro, evoluindo para pequenos furtos até enxergar no tráfico uma forma de garantir renda.
Um dos voluntários da pesquisa destacou a triste realidade: "É muito triste ouvi-los dizer que precisam fazer isso para serem respeitados". O mesmo pesquisador expressou surpresa com a idade dos entrevistados, revelando que "me deparei com muitos adolescentes que, de alguma forma, já sofreram muito na vida".
Números que impressionam
O levantamento apresenta estatísticas significativas sobre a realidade fluminense:
- 70% dos participantes no estado do Rio deixariam o crime imediatamente se tivessem oportunidade
- Este índice é superior à média nacional, que é de 58%
- Apenas 18% afirmam que não sairiam do tráfico
- 55% começaram a traficar por falta de dinheiro
- 63% ganham até dois salários mínimos com a atividade ilegal
- Muitos mantêm outro trabalho legal para complementar a renda
Emprego formal como solução
O estudo aponta que o emprego com carteira assinada é o maior motivador para abandonar o crime. No estado do Rio, 30% dos entrevistados deixariam o tráfico por uma vaga formal, enquanto a média nacional é de 20%.
Alternativas informais de trabalho, como ser motorista de aplicativo, têm baixa adesão - apenas 8% aceitariam essa opção. Entre os principais obstáculos para deixar o tráfico, 38% apontam conflitos armados, disputas territoriais e ameaças como barreiras significativas.
Análise especializada
Marcus Vinicius Athayde, CEO do Data Favela, analisa os resultados: "Os dados confirmam aquilo que a Cufa observa há décadas nas favelas: a criminalidade não é projeto de vida, é falta de oportunidade". Ele reforça que "não é sobre escolha entre o certo e o errado; é sobre sobreviver".
O instituto defende que emprego, renda e empreendedorismo são os caminhos mais eficazes para enfrentar a criminalidade, superando ações exclusivamente repressivas. A proposta inclui a criação de um programa nacional de geração de oportunidades envolvendo governo, empresas e sociedade civil.
A metodologia da pesquisa foi presencial e aplicada por pesquisadores moradores de favelas, garantindo maior proximidade e veracidade nas informações coletadas.