Audiência judicial revela novas informações sobre caso que chocou BH
Nesta quarta-feira (26), foi retomada a audiência de instrução do empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, réu pela morte do gari Laudemir Fernandes após uma discussão no trânsito em Belo Horizonte. O julgamento ocorre no 1º Tribunal do Júri Sumariante, localizado no bairro Barro Preto, na Região Centro-Sul da capital mineira.
Durante a sessão matinal, foram ouvidas testemunhas indicadas pela defesa e o próprio acusado. Na terça-feira (25), primeiro dia de audiência, depuseram testemunhas listadas pela acusação.
Acusado alega ameaças e nega confissão
Renê Nogueira Júnior não respondeu a perguntas diretas durante seu interrogatório, mas fez revelações importantes sobre seu estado no dia do crime. O empresário afirmou que estava armado porque havia sofrido ameaças de um ex-sócio com ligações com o jogo do bicho.
Em declaração surpreendente, o réu disse que teve oportunidade de atirar em outras pessoas, mas não o fez, acrescentando que jamais atiraria em alguém por motivo trivial. No entanto, ele evitou responder diretamente se disparou contra o gari Laudemir Fernandes.
Renê também negou ter confessado o crime na delegacia, alegando que foi ameaçado por policiais que mencionaram a possibilidade de prejudicar sua esposa caso não cooperasse. O empresário ainda expressou preocupação sobre seu casamento com a delegada Ana Paula Balbino Lâmego, questionando se a união resistiria ao ocorrido.
Testemunhas descrevem discriminação e violência
No primeiro dia de audiência, as testemunhas da acusação, incluindo colegas do gari morto, relataram detalhes chocantes do crime. Eledias Aparecida Rodrigues, motorista do caminhão de lixo que também foi ameaçada pelo réu, descreveu o comportamento de Renê como discriminatório.
O que ele fez com a gente ali foi uma discriminação. Ele exerceu todo o poder socioeconômico dele, discriminando até a nossa profissão, declarou Eledias, acrescentando que o acusado pensou que poderia agir daquela forma que iria sair ileso.
O gari Tiago Rodrigues Vieira expressou esperança por justiça: Esperando que a Justiça bata o martelo. Que o acusado possa refletir o que ele fez com o trabalhador que não fez nada com ele e perdeu a vida.
O advogado da família de Laudemir Fernandes, Tiago Lenoir, destacou a inocência da vítima: Todas as testemunhas presenciais desse crime foram perguntadas: O que tinha nas mãos do Laudemir? Um saco de lixo. Poxa, ele estava com um saco de lixo na mão, e esse indivíduo aponta a arma para ele, dá um disparo e ele morre no local.
Contexto do crime e procedimentos judiciais
O caso remonta ao dia 11 de agosto deste ano, quando Renê Nogueira Júnior, irritado com um caminhão de lixo na rua, atirou no gari Laudemir de Souza Fernandes, que trabalhava na coleta em Belo Horizonte. O empresário também ameaçou a motorista do veículo.
Uma semana após o crime, Renê confessou o assassinato durante depoimento no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). A perícia confirmou que a arma usada no crime pertencia à esposa do acusado, a delegada Ana Paula Lamego Balbino.
Em desenvolvimento processual, a Justiça negou o pedido para que Liliane França da Silva, apontada como companheira e viúva do gari, atuasse como assistente de acusação. A juíza Ana Carolina Rauen indeferiu a solicitação por falta de documentos que comprovassem a união estável do casal.
A defesa de Renê apresentou ao processo diversos diplomas e certificados acadêmicos da Universidade Estácio de Sá, USP, Fundação Dom Cabral, Harvard Business Review Brasil e Ambev, com o objetivo de contestar informações divulgadas na imprensa sobre a formação do empresário.
A defesa do acusado informou que só se manifestará após o término de todas as audiências. O caso continua sob acompanhamento da Justiça mineira.