Morre no Rio o sociólogo Michel Misse, referência nos estudos sobre violência e criminalidade
Morre no Rio o sociólogo Michel Misse, aos 75 anos

O Rio de Janeiro perdeu nesta quarta-feira (14) uma das mentes mais brilhantes no campo da sociologia. Michel Misse, cujo trabalho iluminou décadas de estudos sobre violência e crime, partiu aos 75 anos — e o que fica é um vazio difícil de preencher.

Nascido em 1950, o carioca de raiz (com todo aquele sotaque que a gente reconhece de longe) dedicou a vida a entender os meandros da criminalidade. Não aquela visão simplista de "bandido bom é bandido morto", mas análises densas, cheias de nuances, que desmontavam preconceitos.

O acadêmico que falava como gente

Quem teve a sorte de assistir às suas aulas na UFRJ sabe: Misse tinha o dom raro de transformar conceitos complexos em conversas de boteco. Com aquele jeito despojado — às vezes até meio mal-humorado —, ele destrinchava teorias enquanto acendia um cigarro atrás do outro.

Seu livro "O Roubo do Tempo" (2008) virou bíblia para quem estuda o tema. Nele, uma sacada genial: a criminalidade não surge do nada, mas de redes sociais específicas. Parece óbvio? Pois na época foi revolucionário.

O legado que permanece

  • Mais de 40 anos de pesquisas que mudaram como entendemos a violência urbana
  • Orientação de dezenas de pesquisadores que hoje estão espalhados pelo país
  • Participação ativa nos debates públicos sobre segurança — sempre com opiniões polêmicas

"Ele era daqueles raros intelectuais que não ficavam trancados na torre de marfim", lembra a ex-aluna Ana Paula Miranda, hoje professora na UFF. "Michel botava o dedo na ferida, mesmo quando isso significava contrariar o senso comum."

A causa da morte não foi divulgada pela família, que pediu privacidade neste momento difícil. Mas uma coisa é certa: o Brasil perdeu muito mais que um acadêmico. Perdeu um pensador essencial para entender nossas contradições urbanas.

Nas redes sociais, a comoção foi imediata. De ex-alunos a colegas de profissão, todos lembravam suas tiradas sarcásticas — e aquele olhar penetrante que não deixava ninguém sair ileso das discussões.