Clonazepam em refrigerante intoxicou 12 em SC: detalhes da investigação
Clonazepam em refrigerante intoxicou 12 em SC

Substância controlada encontrada em refrigerante causa intoxicação coletiva

A Polícia Civil de Santa Catarina revelou que o clonazepam foi a substância encontrada no refrigerante que intoxicou 12 funcionários do pronto-atendimento de Santa Cecília, no Oeste catarinense. O incidente ocorreu no dia 21 de outubro, mas os detalhes das investigações só foram divulgados na segunda-feira, dia 10 de novembro.

Medicamento controlado com efeitos perigosos

O clonazepam é um medicamento controlado, amplamente utilizado no tratamento de crises convulsivas, transtornos de ansiedade e distúrbios do sono. Conhecido como um dos calmantes mais vendidos no Brasil, a substância pertence à classe dos benzodiazepínicos e atua causando depressão no sistema nervoso central.

Segundo a professora Camila Marchioni, do Laboratório de Pesquisas Toxicólogicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), quando misturado a refrigerantes, o clonazepam pode alterar o sabor da bebida. "O clonazepam em comprimido triturado e misturado a bebidas pode até deixar o gosto levemente amargo, mas isso é bem variável, pois normalmente a quantidade usada é baixa e acaba sendo colocado em bebidas muito doces", explicou a especialista.

Sintomas graves e internações

As vítimas intoxicadas apresentaram sintomas como vômito, tontura, sonolência, inchaço abdominal e dificuldade na fala. A professora Marchioni alertou sobre os riscos do uso excessivo da substância: "Pode deixar a pessoa rebaixada, sendo observado sonolência intensa, confusão mental, fala arrastada, coordenação prejudicada, dificuldade para respirar, redução da pressão arterial e batimentos cardíacos lentos".

Em casos mais graves, podem ocorrer perda de consciência e coma, especialmente se a substância for ingerida com outras que também deprimem o sistema nervoso, como o álcool.

Todos os intoxicados foram internados, com as últimas altas hospitalares ocorrendo apenas em 25 de outubro. De acordo com o secretário de Saúde de Santa Cecília, Eliezer Gomes, 11 dos 12 funcionários intoxicados já retornaram ao trabalho. Uma paciente permanece afastada por problemas pulmonares, mas ainda não se confirmou se a condição está relacionada à intoxicação.

Investigação e prisões

A investigação apurou que os profissionais de saúde participavam de um café da tarde coletivo por volta das 17h do dia 21 de outubro quando começaram a passar mal simultaneamente. A Polícia Civil iniciou a coleta de provas no dia seguinte para verificar possível conduta criminosa na contaminação dos alimentos.

Em 23 de outubro, as autoridades informaram que o refrigerante responsável pelo mal-estar coletivo havia sido levado até a unidade de saúde pela tia de um servidor que havia sido afastado em 8 de outubro por importunação sexual contra funcionárias. Duas pessoas, tia e sobrinho, foram presas temporariamente como suspeitas do crime.

Os peritos constataram que todos os intoxicados tinham em comum o consumo do refrigerante, que estava em uma garrafa de dois litros. Todos os alimentos e bebidas consumidos pelas vítimas foram encaminhados para análise pericial.

Relato de uma vítima

O vereador e técnico de enfermagem Márcio Granemann foi uma das 12 vítimas da intoxicação. Ele relatou ao g1 que sentiu "ardência na garganta" logo após consumir a bebida contaminada. "Tomei dois copos e senti uma ardência na garganta. Era como quando alguém limpa o banheiro ou ambiente fechado e sente o gosto do alvejante. Fiquei tonto e apaguei", descreveu Granemann.

O caso continua sob investigação da Polícia Civil, que busca esclarecer todas as circunstâncias e motivações por trás da contaminação intencional do refrigerante.