Um ato de violência banal em São Paulo teve um desfecho marcado pela solidariedade. Nelson Rodrigues da Silva, um gari de 62 anos, foi vítima de um assalto na região da Lapa, Zona Oeste da capital paulista, na quarta-feira (3). O crime, no entanto, tomou um rumo inusitado quando os ladrões levaram um objeto incomum: a dentadura do idoso.
O assalto e o roubo inusitado
Por volta das 8h30 da manhã, Nelson caminhava pelo bairro quando foi cercado por quatro homens. Os criminosos levaram dois celulares, um dele e outro de sua esposa. Revoltado, o gari gritou com os assaltantes. A reação foi imediata e violenta: um dos homens desferiu um soco no rosto de Nelson.
O golpe teve uma consequência inesperada. A dentadura do idoso, que já estava frouxa, voou para o asfalto. Um dos ladrões percebeu o que havia acontecido, chutou a prótese, colocou-a dentro de uma sacola e fugiu com os comparsas. "Era uma dentadura antiga. Nem tinha porque levar", lamentou Nelson, em depoimento ao g1.
O encontro que mudou tudo
No dia seguinte, ainda sem a prótese, Nelson foi trabalhar na retirada de uma árvore no cruzamento da Rua Emanuel Kant com a Avenida 9 de Julho, também na Zona Oeste. No local, a designer de interiores Gabriela Yaroslavsky protestava contra o corte da árvore e buscava entender os motivos da ação.
Ao ouvir os colegas de Nelson comentando que o gari estava "banguela", Gabriela se aproximou para saber a história. Sensibilizada com o relato do assalto e com a dificuldade financeira do homem para adquirir uma nova dentadura, ela tomou uma decisão imediata. "Eu fiquei tão tocada que resolvi pagar uma dentadura nova para ele. Era o mínimo", afirmou.
Um presente de Natal antecipado
Gabriela deixou o local após ser informada pela prefeitura sobre o laudo que autorizava a retirada da árvore e acionou sua dentista. A profissional aceitou fazer o serviço para Nelson. Horas depois, a designer levou o gari até o consultório para a confecção da nova prótese.
Para Nelson, o gesto foi um alívio e uma grande alegria. "Eu fico sem jeito de receber assim essa ajuda, mas foi um presente de Natal", disse emocionado. "Vou até comer o peru de Natal melhor. Vai me ajudar muito. Não tenho possibilidade de fazer nada, de comprar uma nova. Meu salário é pequeno. Era um sonho. Deus ajudou e me deu uma prótese fixa".
O destino da árvore
O protesto de Gabriela que a levou até Nelson também teve uma resposta oficial. A Subprefeitura de Pinheiros informou que a remoção da falsa seringueira foi necessária porque a árvore apresentava estado fitossanitário comprometido, com presença de brocas e cupins.
Além disso, a árvore ocupava praticamente toda a calçada e o tronco avançava sobre a via, estando inclinado, o que gerava riscos. A prefeitura comprometeu-se a fazer uma compensação ambiental com o plantio de três mudas de árvores nativas em áreas adequadas da avenida.
A história, que começou com um ato de violência e crueldade, terminou com um poderoso exemplo de empatia e solidariedade urbana, mostrando que a compaixão pode surgir nos contextos mais improváveis.