Um tribunal francês condenou o prefeito de Saint-Étienne, Gaël Perdriau, a uma pena de quatro anos de prisão por comandar um esquema de chantagem política. O caso, considerado grave pela justiça da França, envolveu o uso de um vídeo sexual para controlar e submeter politicamente o então vice-prefeito, Gilles Artigues.
O esquema de chantagem que durou quase uma década
A sentença, proferida pela corte penal de Lyon nesta segunda-feira, 1º de dezembro de 2025, também determinou a perda dos direitos políticos de Perdriau por cinco anos, efeito que passa a valer imediatamente. O magistrado considerou comprovado que o prefeito participou ativamente da trama e chegou a utilizar verbas públicas para financiar o esquema.
Os fatos remontam ao ano de 2015. Na época, Gilles Artigues, um político católico praticante e conhecido por suas críticas ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, foi filmado secretamente durante um encontro com um suprosto garoto de programa em um quarto de hotel. Esse material íntimo e explícito teria sido usado como uma arma de controle por quase dez anos.
Durante o julgamento, a promotoria Audrey Quey usou uma expressão forte para descrever o poder que Perdriau detinha sobre o vice. Ela afirmou que o prefeito "estava com o dedo no botão nuclear", pronto para divulgar o vídeo caso Artigues desafiasse sua autoridade ou sua gestão à frente da prefeitura.
As consequências para a vítima e os outros envolvidos
Em seu depoimento, Gilles Artigues, hoje com 60 anos, descreveu ter vivido um verdadeiro "pesadelo". Ele relatou que se sentia "paralisado" durante as reuniões na administração municipal e agia como um "fantoche", sem autonomia para tomar decisões. O ex-vice-prefeito também revelou que a pressão constante o levou a enfrentar pensamentos suicidas.
A investigação mostrou que o esquema não foi executado por Perdriau sozinho. O chefe de gabinete do prefeito e outro adjunto também participaram da emboscada que resultou na gravação clandestina. Eles admitiram sua participação e, por isso, também receberam penas de prisão.
Um dos momentos cruciais da prova foi um áudio apresentado por Artigues ainda em 2017. Na gravação, Perdriau menciona possuir um pen drive com imagens comprometedoras e faz uma ameaça velada de torná-las públicas, confirmando a natureza da chantagem.
Contexto político e reação do condenado
É importante entender o cenário político local para compreender a dinâmica do caso. Diferentemente do sistema brasileiro, na França a população não elege o prefeito diretamente. Os cidadãos votam para escolher o conselho municipal, e são os conselheiros que, entre si, elegem o prefeito e seus vices. Por esse motivo, Perdriau e Artigues eram adversários políticos que foram obrigados a trabalhar juntos em uma coalizão.
Após a leitura do veredito, Gaël Perdriau manteve sua posição de inocência. Ele nega ter ordenado a gravação do vídeo e anunciou que vai recorrer da decisão judicial. A defesa tentou, durante o processo, dissociar o prefeito da execução direta do plano, mas a corte não aceitou os argumentos.
O caso chocou a opinião pública francesa e expôs uma faceta sombria da política local, envolvendo chantagem, invasão de privacidade e abuso de poder. A pena severa aplicada pelo tribunal de Lyon sinaliza a intolerância do sistema judiciário francês com esse tipo de crime, especialmente quando cometido por autoridades que deveriam zelar pelo interesse público.