Austrália anuncia plano de 5 pontos contra ódio após atentado que matou 15
Plano australiano contra discurso de ódio pós-atentado

O governo da Austrália revelou nesta quinta-feira, 18 de dezembro de 2025, um plano robusto para enfrentar o discurso de ódio e o extremismo violento. A ação é uma resposta direta ao ataque a tiros que chocou o país dias antes, na praia de Bondi, em Sydney, deixando um saldo de 15 mortos e 25 feridos.

Resposta governamental ao ataque terrorista

O primeiro-ministro Anthony Albanese apresentou uma iniciativa de cinco pontos, focada em combater, em especial, a onda de antissemitismo que assola o país. Anthony Albanese admitiu que "sempre se poderia ter feito mais" e que "governos não são perfeitos", assumindo a responsabilidade de agir após a tragédia.

O ministro do Interior, Tony Burke, será o responsável por implementar partes cruciais do plano. Ele receberá poderes para cancelar e rejeitar vistos de indivíduos que promovam "ódio e divisão". Além disso, o governo pretende cortar ou bloquear financiamento público para projetos artísticos e de pesquisa que apoiem atividades antissemitas.

Medidas duras e mudanças legais

O pacote de medidas propõe alterações significativas na legislação. Uma delas é a possibilidade de revogar a cidadania de pessoas com dupla nacionalidade que se envolvam em terrorismo. Outra medida prevê a suspensão da emissão de vistos para residentes de áreas consideradas "enclaves terroristas", incluindo explicitamente a Faixa de Gaza.

"Houve organizações que qualquer australiano olharia e diria: seu comportamento... não têm lugar na Austrália", declarou Burke. "Durante uma geração, nenhum governo conseguiu tomar medidas eficazes... porque ficaram um pouco abaixo do limite legal. Hoje, estamos anunciando que estamos alterando esse limite."

O plano também determina que pregadores que incitem a violência por meio de discursos de ódio respondam por crime agravado. A proposta inclui ainda considerar o ódio como um fator agravante em sentenças por crimes de ameaça e assédio online, com o consequente aumento das penas.

Os autores e o ataque em Bondi

O atentado que desencadeou a ação do governo foi atribuído a Sajid Akram e Naveed Akram, pai e filho. Ambios foram baleados pela polícia durante a intervenção. Sajid Akram não resistiu aos ferimentos, enquanto Naveed Akram sobreviveu, despertou de um coma e agora responde a 59 acusações criminais.

O ataque ocorreu durante um festival de Hanukkah, celebração judaica, e durou cerca de dez minutos. A polícia encontrou, em um veículo registrado em nome do mais jovem, artefatos explosivos improvisados e bandeiras caseiras associadas ao Estado Islâmico.

"Os primeiros indícios apontam para um ataque terrorista inspirado pelo Estado Islâmico", afirmou a Comissária da Polícia Federal Australiana, Krissy Barrett. "Essas são as supostas ações daqueles que se aliaram a uma organização terrorista, não a uma religião."

Herói civil e pressão política

Um momento de luz em meio à tragédia foi o ato de Ahmed al Ahmed, um muçulmano de 43 anos e pai de dois filhos. Ele desarmou um dos atiradores em um gesto corajoso, sendo reconhecido como herói internacionalmente, inclusive pelo então presidente dos EUA, Donald Trump. Uma vaquinha online para Ahmed arrecadou mais de 1,9 milhão de dólares australianos (cerca de R$ 6,8 milhões).

Politicamente, a oposição pressiona por ação mais rápida. A líder oposicionista, Sussan Ley, afirmou que "mais deveria ter sido feito" após os ataques de outubro de 2023 contra Israel e instou Albanese a convocar o Parlamento para aprovar as leis antes do Natal. O primeiro-ministro, no entanto, ressaltou que as mudanças são "complexas" e precisam ser bem redigidas para resistir a contestações judiciais, embora não tenha descartado uma convocação extraordinária no verão. Ele busca "amplo apoio em todo o parlamento".

Paralelamente ao anúncio do plano contra o ódio, o governo federal também iniciou uma revisão das leis de armas do país. A medida reflete a gravidade da situação de segurança, após 16 meses de uma onda de ataques contra a comunidade judaica, que levou a principal agência de inteligência australiana a declarar o antissemitismo como a principal ameaça à vida no país.