Ex-padre foragido há 20 anos preso no Uruguai por abuso de menores
Padre acusado de abuso preso após 20 anos foragido

Após quase duas décadas em fuga, as autoridades uruguaias prenderam o ex-sacerdote boliviano Juan José Sant'Anna, de 54 anos, acusado de cometer crimes sexuais contra menores. A detenção ocorreu no final de setembro em Salto, cidade localizada às margens do rio Uruguai, marcando um importante capítulo na busca por justiça que se arrasta desde 2005.

Operação conjunta prende foragido

Uma operação coordenada entre policiais uruguaios e investigadores internacionais resultou na localização do ex-padre na casa de familiares. Juan José Sant'Anna agora aguarda na capital Montevidéu enquanto a Justiça uruguaia analisa o pedido de extradição apresentado pela Bolívia.

Se extraditado, o ex-religioso enfrentará acusações que podem resultar em até 30 anos de prisão, a pena máxima prevista na legislação boliviana para crimes desta natureza.

Histórico de abusos em série

As primeiras denúncias contra Sant'Anna surgiram em 2005, quando ele assumiu a ala masculina do internato Ángel Gelmi, em Tapacarí, região de Cochabamba. No cargo, era responsável por 72 meninos entre 8 e 17 anos.

As investigações, iniciadas dois anos depois, revelaram um padrão perturbador de abusos sistemáticos. Os relatos das vítimas descrevem situações onde crianças eram sedadas e levadas ao quarto do religioso sob o pretexto de assistir a vídeos.

Laudos psicológicos confirmaram que os abusos ocorreram por longos períodos e envolveram o uso de drogas para entorpecer as crianças. Testemunhos da época incluem meninos chorando ao relatar os sofrimentos e o caso de um adolescente que conseguiu escapar de uma tentativa de estupro, fugindo do banheiro onde havia sido encurralado.

Fuga da justiça e consequências

Apesar dos mandados de prisão emitidos em 2007 e 2008, Sant'Anna conseguiu escapar da justiça boliviana por quase vinte anos. Em 2011, o Vaticano determinou sua saída definitiva do sacerdócio, reconhecendo a gravidade das acusações.

Uma freira que registrou episódios suspeitos e alertou as autoridades locais foi fundamental para expor o caso. Agora, a Comunidade Boliviana de Sobreviventes, formada por vítimas de violência sexual cometida pelo clero, acompanha atentamente o processo e pressiona para que o ex-padre seja finalmente julgado na Bolívia.

O caso representa um marco na luta contra a impunidade em crimes cometidos por membros da Igreja e traz esperança às vítimas que aguardam por justiça há quase vinte anos.