Crime de honra na Holanda: jovem de 18 anos morta por família por recusar véu
Jovem morta por família na Holanda por recusar véu

Um crime brutal chocou a Holanda, um dos países mais liberais do mundo, e reacendeu o debate global sobre fundamentalismo religioso e a liberdade das mulheres. Ryan Al Najjar, uma jovem de 18 anos, foi assassinada pela própria família em um suposto "crime de honra" por querer abandonar o uso do véu islâmico, o hijab, e adotar um estilo de vida ocidental.

Os detalhes do assassinato brutal

O crime aconteceu entre os dias 27 e 28 de maio de 2024. Ryan foi levada pelo pai, Khaled Al Najjar, e pelos irmãos, Muhammad e Muhanad, por aproximadamente 120 quilômetros até um pântano de águas rasas. Lá, a jovem foi submetida a um tratamento de extrema crueldade: foi amordaçada e envolta em 24 metros de fita adesiva. Com os pés e as mãos amarrados, e com um peso preso ao corpo, Ryan foi jogada ainda viva no lodaçal. A autópsia confirmou que ela morreu por afogamento, com água e lama encontradas em seus pulmões.

A família de Ryan era de origem síria e vivia na Holanda como refugiada. Após o crime, Khaled Al Najjar fugiu para a Síria, de onde assumiu a autoria do assassinato, numa tentativa de inocentar os filhos. Os dois irmãos estão atualmente sendo julgados na Holanda. A defesa deles alega que os jovens agiram sob coação, intimidados pelo "comportamento tirânico" do pai. A mãe da vítima também teria apoiado o ato extremo.

O conflito cultural por trás da tragédia

A motivação para o crime foi a decisão de Ryan de se integrar à sociedade holandesa. Ela tinha um namorado holandês, gostava de se maquiar e, principalmente, não queria mais usar o hijab. Em famílias de tradição muçulmana radical, a rejeição a símbolos como o véu é vista como uma desonra, passível de punição severa. Este caso se enquadra na definição de "crime de honra", uma prática que vitima mulheres em contextos de fundamentalismo.

A jornalista paquistanesa Khadija Khan, que vive na Inglaterra, relaciona essa mentalidade a outros problemas graves. Em um relato pessoal, ela descreveu como mulheres que não se cobrem são vistas como "sexualmente imorais" em certos círculos. Essa visão, segundo ela, alimenta desde a violência doméstica até casos de aliciamento e abuso sexual de adolescentes por gangues em cidades europeias, onde as vítimas são vistas como "disponíveis".

Um debate global e sem solução fácil

A morte de Ryan Al Najjar ecoa outros casos emblemáticos, como o da iraniana Mahsa Amini, morta pela polícia da moralidade no Irã em 2022 por não usar o véu corretamente. O uso do hijab é um tema polêmico e regulado de formas muito diferentes ao redor do mundo.

Alguns países ocidentais impõem restrições:

  • França: Proíbe o véu em escolas e instituições públicas.
  • Bélgica, Suíça, Áustria e Dinamarca: Banem a cobertura total do rosto (niqab e burka).

Curiosamente, alguns países de maioria muçulmana também limitam seu uso:

  • Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Uzbequistão: Restringem o hijab em espaços públicos.
  • Arábia Saudita: Relaxou recentemente as regras sob novas leis.
  • Irã: O uso do véu e de roupas longas é obrigatório por lei.

O caso de Ryan expõe o doloroso choque entre tradições religiosas radicais e os valores de liberdade individual vigentes nas sociedades ocidentais. A jovem, que sonhava com uma vida diferente, teve seu futuro interrompido de forma violenta pelas mãos daqueles que deveriam protegê-la. A tragédia ocorrida na avançada Holanda serve como um alerta sombrio de que a barbárie do fundamentalismo não conhece fronteiras geográficas.