Um tribunal na Turquia condenou o jornalista Fatih Altayli a quatro anos e dois meses de prisão por supostamente ameaçar o presidente Recep Tayyip Erdogan. O caso, que ganhou repercussão internacional, ocorreu após declarações do profissional em seu canal no YouTube.
Detenção e condenação do jornalista
Fatih Altayli, de 63 anos, já estava detido desde junho após ser acusado de fazer e divulgar publicamente uma ameaça contra o líder turco. Nesta quarta-feira (26), a Justiça turca formalizou a condenação, determinando que o jornalista permaneça preso enquanto aguarda o julgamento do recurso que sua defesa já anunciou que irá apresentar.
O caso teve início após declarações feitas por Altayli em seu programa "Comentários de Fatih Altayli", transmitido pelo YouTube. Na ocasião, o jornalista reagiu a uma pesquisa que mostrava que mais de 70% da população se opunha à presidência de Erdogan, que está no poder há mais de duas décadas.
Declarações polêmicas e defesa do jornalista
Em seus comentários, Altayli disse que não se surpreendia com o resultado que refletia a insatisfação popular. "Vejam a história desta nação", afirmou o jornalista. "Esta é uma nação que estrangulou seu chefe de Estado quando não gostavam dele ou não o queriam. Há vários sultões otomanos que foram assassinados, estrangulados ou cujas mortes foram forjadas para parecer suicídio".
Em sua defesa, Altayli argumentou que as acusações contra ele pareciam "absurdas e desnecessárias". Questionando as motivações do caso, ele disse: "Por que o presidente deveria ter medo de mim? Não sou membro de nenhuma organização, não sou nada disso. Nunca recorri à violência", conforme registrou o jornal Cumhuriyet.
Cenário da mídia independente na Turquia
O programa do jornalista no YouTube ficou temporariamente fora do ar, mas foi retomado com outros profissionais assumindo a apresentação. O caso de Altayli ilustra uma tendência maior no país: com a maioria dos meios de comunicação pertencendo a empresas pró-governo ou sendo controlados diretamente pelo Estado, vários jornalistas independentes migraram para plataformas de vídeo como o YouTube para fazer reportagens "sem censura".
De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Turcos, atualmente 11 profissionais de mídia estão presos no país. O governo turco, por sua vez, alega que esses jornalistas foram processados por atos criminosos e não por seus trabalhos jornalísticos, posição que gera debates internacionais sobre liberdade de imprensa e direitos humanos.