Uma investigação de corrupção resultou na queda de Andrii Iermak, chefe de gabinete do presidente ucraniano Volodimir Zelenski, neste sexta-feira (28). Considerado o segundo homem mais poderoso do país, Iermak era responsável pelas negociações do acordo de paz com a Rússia proposto pelos Estados Unidos.
Operação anticorrupção atinge núcleo duro do governo
O Escritório Nacional Anticorrupção (Nabu) e a Procuradoria Especializada Anticorrupção (Sapo) confirmaram que a Justiça autorizou uma busca na residência do político. As agências não divulgaram detalhes sobre o conteúdo da investigação, mas a saída de Iermak foi anunciada pelo presidente Zelenski pouco depois.
Em comunicado, Zelenski afirmou ser vital manter "a unidade nacional" em meio à guerra contra a Rússia. Fontes indicam que a ação está relacionada ao megaescândalo de desvio de pelo menos US$ 100 bilhões (R$ 530 bilhões) do setor de energia, que já havia causado a queda dos ministros da área e da Justiça.
Iermak, de 54 anos, declarou que está colaborando com as investigações. Ele era visto amplamente como uma das figuras mais influentes da política ucraniana pelo lado do governo.
Crise política se aprofunda com pressão internacional
O momento é particularmente delicado para Zelenski, que enfrenta crescente pressão interna e externa. Os aliados que já doaram aproximadamente US$ 1,5 trilhão (R$ 8 trilhões) para o esforço de guerra exigem transparência sobre o destino dos recursos.
As agências investigadoras Nabu e Sapo haviam sido alvo de controvérsia em junho, quando Zelenski tentou remover seu poder de investigar altos funcionários, incluindo Iermak. A medida provocou os primeiros grandes protestos de rua contra o presidente desde a invasão russa em fevereiro de 2022.
Diante da pressão popular e internacional, Zelenski recuou da proposta. Agora, vê essas mesmas agências atuando dentro do seu próprio governo.
Contexto internacional complica negociações de paz
A situação se torna ainda mais complexa no cenário internacional. O presidente russo Vladimir Putin declarou na quinta-feira (27), durante visita ao Quirguistão, que considera Zelenski "ilegítimo" e que "não fazia sentido assinar nenhum documento" ao seu lado.
Nesta sexta, o Kremlin afirmou que, apesar dessa posição, a Rússia continuará negociando. O ex-presidente americano Donald Trump também já se referiu a Zelenski como "ditador sem voto", embora o líder ucraniano tenha sido democraticamente eleito em 2019.
Iermak tinha papel crucial nas negociações de paz. Ele chefiou a delegação que discutiu a revisão do plano pró-Rússia apresentado pelos EUA durante encontro em Genebra no domingo (23) com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o enviado de Trump, Steve Witkoff.
O novo documento revisado, que substituiu uma versão inicial considerada francamente favorável a Putin, ainda não foi totalmente divulgado. O jornal britânico Telegraph informa que o texto atual garantiria a Putin os ganhos territoriais obtidos até agora no conflito.
Legado de corrupção e futuro incerto
A amizade entre Iermak e Zelenski remonta aos tempos em que o presidente era um comediante que fazia carreira na televisão russa e ucraniana. Agora, essa relação próxima torna a investigação ainda mais sensível politicamente.
O histórico de corrupção na Ucrânia é preocupante. Segundo o ranking de percepção de corrupção da ONG Transparência Internacional, Kiev ocupa a 105ª posição entre 180 países.
Enquanto isso, a situação política permanece instável. O ex-chefe das Forças Armadas, Valeri Zalujni, emerge como principal candidato a sucessor, embora as eleições estejam suspensas devido ao estado de sítio. O mandato de Zelenski tecnicamente expirou em maio do ano passado, mas a guerra impede a realização de pleitos.
As investigações continuam, e ainda não se sabe formalmente das acusações específicas contra Iermak. No entanto, a rápida demissão e o contexto sugerem que o caso pode ter sérias repercussões para a estabilidade do governo ucraniano em um momento crítico da guerra.