A Ucrânia está no centro de um dos maiores escândalos de corrupção no setor energético desde o início da guerra contra a Rússia. O Gabinete Nacional Anticorrupção anunciou nesta segunda-feira, 10 de novembro de 2025, uma investigação que revela um esquema de propinas que movimentou aproximadamente US$ 100 milhões (cerca de R$ 530 milhões) dentro da Energoatom, empresa estatal responsável pela energia nuclear do país.
Os detalhes da operação anticorrupção
De acordo com as investigações, uma organização criminosa de alto nível operava dentro da estatal, envolvendo antigos e atuais funcionários da companhia, incluindo um ex-assessor do Ministério da Energia. Os suspeitos são acusados de liderar uma rede de corrupção que manipulava contratos e pagamentos a fornecedores.
A agência anticorrupção, que atua de forma independente do governo, divulgou imagens impactantes de pacotes de dinheiro em hryvnias (moeda ucraniana), dólares e euros apreendidos durante a operação. Embora não tenha revelado as identidades dos envolvidos, a investigação citou especificamente o chefe de segurança da estatal e o ex-assessor do ministro da Energia entre os principais suspeitos, além de outros quatro funcionários administrativos.
O mecanismo do esquema fraudulento
Segundo Oleksandr Abakumov, chefe de investigações do Gabinete Nacional Anticorrupção, os acusados exigiam subornos que variavam entre 10% a 15% do valor dos contratos para liberar pagamentos e manter o status de fornecedores. "Uma empresa estratégica, com receita anual superior a 200 bilhões de hryvnias, era controlada por pessoas sem autoridade formal", declarou Abakumov.
As buscas realizadas foram extremamente abrangentes, envolvendo mais de 70 endereços diferentes. A operação foi resultado de uma apuração minuciosa que durou 15 meses e incluiu aproximadamente mil horas de gravações como evidências.
Repercussões políticas e internacionais
A descoberta do esquema de corrupção gerou imediatas consequências políticas. O deputado oposicionista Yaroslav Zheleznyak já apresentou um pedido de demissão da ministra da Energia, Svitlana Hrynchuk, e de seu antecessor, German Galushchenko, atual ministro da Justiça.
Em resposta às acusações, a Energoatom confirmou através de nota publicada nas redes sociais que seus escritórios foram alvo de buscas e que a empresa colabora com as autoridades. A ministra Hrynchuk declarou que espera que a transparência da investigação tranquilize os parceiros internacionais do país, embora afirme ainda não ter tido acesso a todos os detalhes do caso.
Este caso surge em um momento particularmente delicado para a Ucrânia, que vem enfrentando danos significativos em seu sistema elétrico devido a uma nova onda de bombardeios russos. Os ataques atingem principalmente subestações ligadas a usinas nucleares, embora Kiev afirme que suas centrais nucleares continuam intactas.
Vale destacar que em julho deste ano, pressões populares e críticas internacionais levaram o presidente Volodymyr Zelensky a restaurar a autonomia das principais agências anticorrupção do país, após tentativas anteriores de limitar seus poderes. O combate à corrupção é considerado essencial para o avanço da Ucrânia no processo de adesão à União Europeia, tornando esta investigação ainda mais significativa para o futuro do país.