EUA aprovam liberação de arquivos de Epstein com voto quase unânime
Congresso dos EUA aprova liberação de arquivos Epstein

Congresso americano aprova liberação histórica de documentos sobre caso Epstein

O Congresso dos Estados Unidos aprovou de forma quase unânime nesta terça-feira (18) a liberação dos arquivos do Departamento de Justiça sobre Jeffrey Epstein, o financista acusado de operar uma rede de tráfico sexual e exploração de menores. A decisão representa um momento significativo na política americana, criando desgaste para o presidente Donald Trump e gerando cobranças dentro de sua própria base de apoiadores.

Votação expressiva nos dois parlamentos

Na Câmara dos Representantes, a medida foi aprovada com 427 votos a favor e apenas 1 contra, além de cinco abstenções. Já no Senado, o texto recebeu aval de todos os parlamentares sem exceção, após uma manobra do Partido Democrata que permitiu a aprovação por consenso.

O único voto contrário veio do republicano Clay Higgins, deputado da Louisiana aliado de Trump. Em publicação no X (antigo Twitter), Higgins justificou sua posição argumentando que a lei "revela a identidade de milhares de inocentes, entre testemunhas, familiares, etc". O parlamentar alertou que "uma revelação tão ampla de uma investigação criminal, liberada para uma mídia raivosa, irá resultar em pessoas inocentes sendo prejudicadas".

Mudança de posição de Trump e tensões políticas

O presidente Trump havia se oposto inicialmente à medida, mas mudou de posição no domingo (16), declarando que "os republicanos da Câmara deveriam votar para divulgar os arquivos de Epstein, porque não temos nada a esconder". Esta reviravolta ocorreu após tensões com uma de suas principais apoiadoras no Congresso, a deputada republicana Marjorie Taylor Greene, que vinha criticando publicamente o Departamento de Justiça por não divulgar mais detalhes sobre o caso.

As relações entre Trump e Epstein têm sido exploradas tanto por críticos quanto por apoiadores do presidente. Trump afirma que nunca teve ligação com os supostos crimes de Epstein e se refere ao assunto como uma "farsa democrata", usada para desviar o foco de seus supostos pontos positivos no governo.

Impacto político e pesquisas

Desde que Trump retornou ao poder, o caso Epstein se tornou um raro ponto fraco para sua administração. Uma pesquisa Reuters/Ipsos de outubro revelou que apenas 4 em cada 10 republicanos aprovam a forma como Trump lida com o assunto, um número bem abaixo dos 9 em cada 10 que aprovam seu desempenho geral.

O líder democrata da Câmara, o deputado por Nova York Hakeem Jeffries, avaliou a mudança de posição de Trump como uma rendição. "Donald Trump parece ter se acovardado no escândalo Epstein. Ele cedeu. É uma rendição completa e total", declarou Jeffries em entrevista coletiva na segunda-feira (17).

Limites da divulgação e investigações em andamento

Apesar da aprovação ampla, existem dúvidas sobre o alcance real da divulgação dos materiais. A medida permite ao Departamento de Justiça manter sob sigilo documentos sujeitos a investigações em andamento. Simultaneamente, Trump pediu ao departamento para investigar a relação de Epstein com importantes nomes democratas, incluindo o ex-presidente Bill Clinton e o ex-secretário do Tesouro Larry Summers.

Summers, que é professor de Harvard, anunciou que se afastaria da vida pública após as revelações de seus diálogos com Epstein, declarando-se "profundamente envergonhado". Ele continuará, no entanto, a dar aulas na instituição.

Histórico do caso Epstein

Jeffrey Epstein havia se declarado culpado de uma acusação estadual de prostituição de menores na Flórida em 2008, cumprindo 13 meses de prisão. Em 2019, o Departamento de Justiça dos EUA o acusou de tráfico sexual de menores na esfera federal em um caso muito mais amplo, que pode ter vitimado mais de 200 mulheres.

Epstein se declarou inocente dessas novas acusações e morreu na prisão antes do julgamento, em um episódio considerado suicídio. E-mails divulgados na semana passada por um comitê da Câmara mostraram que o financista acreditava que Trump "sabia sobre as garotas", embora não estivesse claro o significado dessa afirmação. A Casa Branca afirmou que os e-mails divulgados não continham prova de irregularidades por parte de Trump.

O texto aprovado pelo Congresso agora segue para sanção presidencial, e Trump já prometeu não vetar a lei se aprovada no Legislativo.