Ex-anestesista 'Dr. Morte' é condenado à prisão perpétua por envenenar 30 pacientes na França
Anestesista francês condenado à prisão perpétua por envenenar pacientes

O sistema judicial francês emitiu nesta quinta-feira, 18 de dezembro de 2025, uma das suas sentenças mais duras e simbólicas. O ex-anestesista Frédéric Péchier, de 53 anos, conhecido como 'Dr. Morte', foi condenado à prisão perpétua por envenenar intencionalmente 30 pacientes, causando a morte de 12 deles.

O médico que usou a medicina para matar

O julgamento, que se estendeu por três meses, revelou os detalhes macabros dos crimes cometidos por Péchier ao longo de quase uma década. Os promotores o descreveram como 'um dos maiores criminosos da história do sistema judicial francês'. A procuradora Thérèse Brunisso foi categórica ao afirmar que ele era 'um criminoso que usou a medicina para matar', e não um médico.

O modus operandi do ex-anestesista consistia em adulterar embalagens de paracetamol ou de anestesia de seus próprios colegas. As doses erradas administradas aos pacientes provocavam paradas cardíacas durante procedimentos que, em tese, eram de rotina.

As motivações sombrias por trás dos crimes

Durante o processo, os procuradores buscaram entender o que levou um profissional renomado a cometer tais atrocidades. As conclusões apontaram para uma mistura de necessidade de poder, frustração e rivalidade.

Segundo a acusação, Péchier agia para:

  • Demonstrar que era 'todo-poderoso', especialmente em situações de crise onde outros médicos sofriam.
  • Desacreditar colegas com quem tinha conflitos, fazendo com que parecessem incompetentes ao provocar complicações em seus pacientes.
  • Usar o envenenamento como uma válvula de escape para seus sentimentos de inadequação.

A procuradora Christine de Curraize resumiu a gravidade ao declarar que, para Péchier, matar havia se tornado 'um modo de vida'.

Vítimas e sequelas de um trauma coletivo

As vítimas tinham idades que variavam entre 4 e 89 anos. Uma das histórias mais comoventes é a de Tedy, que tinha apenas quatro anos em 2016 quando sofreu duas paradas cardíacas durante uma simples cirurgia de amígdalas. O menino sobreviveu após dois dias em coma, mas carrega sequelas.

'Preciso de 10 minutos a mais que meus colegas para escrever. Tenho medo de que as marcas do envenenamento permaneçam comigo por toda a vida', disse Tedy, hoje com 14 anos, em declaração lida pelo pai no tribunal.

Outra vítima, Sandra Simard, tinha 36 anos em 2017 quando foi submetida a uma cirurgia de coluna. Intoxicada por uma bolsa de anestesia adulterada, seu coração parou. Ela sobreviveu após dias em coma, mas sua vida foi transformada. 'Meu corpo inteiro dói. É como se eu vivesse no corpo de uma pessoa idosa', lamentou ela, que agora depende de uma bengala para se locomover.

Frédéric Péchier, que tem 10 dias para recorrer da sentença, manteve sua inocência até o fim. No tribunal, afirmou: 'Nunca envenenei ninguém... Não sou um envenenador'. Seus advogados de defesa contestaram as provas, mas não convenceram o júri. Os advogados das vítimas o descreveram como uma pessoa fria e completamente desprovida de empatia.

A sentença de prisão perpétua encerra um capítulo tenebroso na medicina francesa, mas deixa um rastro permanente de dor e desconfiança. O caso 'Dr. Morte' expôs falhas graves e servirá como um sombrio precedente sobre os limites da ética médica e a sanidade no exercício do poder sobre a vida e a morte.