O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez uma revelação impactante durante coletiva em Brasília nesta quinta-feira (27): os R$ 10 bilhões sonegados pela Refit, antiga refinaria de Manguinhos, seriam suficientes para bancar toda a segurança pública do Rio de Janeiro durante um ano inteiro.
Esquema bilionário de sonegação fiscal
A operação Poço de Lobato, realizada por uma força-tarefa envolvendo múltiplas agências, desvendou um sofisticado esquema de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro conduzido pela Refit. De acordo com Haddad, o grupo investigado movimentou impressionantes R$ 70 bilhões em apenas um ano, utilizando uma complexa rede de empresas próprias, fundos de investimento e empresas offshore em paraísos fiscais.
O secretário especial da Receita Federal, Robson Barreirinhas, reforçou a dimensão do problema: "Nós estamos falando de R$ 26 bilhões de débitos com o estado brasileiro. Só para o Estado do Rio de Janeiro são R$ 10 bilhões que não foram pagos. Isso é equivalente ao orçamento do Rio de Janeiro com as suas polícias".
Como funcionava a fraude
O esquema fraudulento tinha a refinaria como centro operacional, rodeada por uma rede de colaboradores dividida em diferentes núcleos:
- Núcleo internacional com empresas no exterior
- Setores de tecnologia e jurídico
- Fintechs e bancos cooperantes
- Distribuidoras e postos de gasolina
A investigação descobriu que a sonegação ocorria em toda a cadeia produtiva - desde o momento da importação de combustíveis através dos portos até a venda final nos postos de gasolina. O objetivo principal, segundo investigadores, era beneficiar um núcleo familiar específico.
Abrangência nacional e débitos acumulados
Com sede no Rio de Janeiro, mas atuação em todo território nacional, a Refit é considerada o maior devedor de ICMS do estado de São Paulo, o segundo maior do Rio e um dos maiores devedores da União. Comandado pelo empresário Ricardo Magro, o grupo acumula dívidas impressionantes com os cofres públicos.
As buscas e apreensões desta quinta-feira ocorreram simultaneamente em cinco estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal, demonstrando a abrangência nacional das investigações.
Ausência de facções e posicionamento da Refit
Em entrevista coletiva, o promotor de Justiça Alexandre Castilho afirmou que não foi detectada a presença de facções criminosas no esquema. A operação foi deflagrada pelo Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos do Estado de São Paulo (Cira-SP) e conta com participação de múltiplas agências governamentais.
A reportagem não conseguiu obter posicionamento da Refit nesta quinta-feira. Em setembro, a empresa havia emitido nota afirmando que "jamais atuou ou opera como empresa de fachada para atividades ilegais" e destacando seu compromisso com a qualidade dos combustíveis ao longo de décadas de operação.
A defesa do grupo ainda não se manifestou oficialmente sobre as novas acusações, deixando uma lacuna nas explicações sobre os R$ 10 bilhões que, segundo o ministro Haddad, fariam toda diferença para a segurança dos cariocas.