Do porto ao posto: o esquema bilionário de sonegação da Refit
O Ministério Público revelou detalhes de um sofisticado esquema de sonegação fiscal montado pelo Grupo Refit que abrangia toda a cadeia de combustíveis, desde a importação de diesel e gasolina da Rússia até a venda nos postos de abastecimento.
Segundo investigadores, a empresa utilizava empresas de fachada e nomes de laranjas para importar combustíveis e derivados de petróleo russos, declarando falsamente que trazia matéria-prima e não produto pronto para consumo.
Operação apreende navios com 180 milhões de litros
Em setembro, a Receita Federal realizou uma grande apreensão nos portos de Santos e Rio de Janeiro, onde quatro navios se preparavam para descarregar 180 milhões de litros de combustível adquiridos pela Refit através do esquema fraudulento.
Fiscais da Agência Nacional do Petróleo descobriram que a refinaria do grupo nem mesmo refinava combustível. Os tanques eram utilizados apenas para armazenar o produto importado, que recebia alguns aditivos antes de ser comercializado.
Estratégia para pagar menos impostos
Cláudio Ferrer de Souza, superintendente substituto da Receita/SP, explicou a mecânica do esquema: "Do porto ao posto, né? Sem pagar imposto, porque é exatamente o que esse grupo faz. Como é que você vai competir com uma estrutura dessa que tem uma concorrência extremamente desleal?"
A procuradora-geral do Estado, Inês dos Santos Coimbra, complementou: "Claramente, o grupo agia declarando o imposto, não pagando imposto e diluindo o seu patrimônio entre várias interpostas empresas".
Dinheiro circulava por fintechs e fundos de investimento
As investigações revelaram que o dinheiro do esquema ingressava no mercado financeiro através de fintechs. Entre 2024 e 2025, mais de R$ 72 bilhões circularam por contas digitais, estratégia utilizada para dificultar o rastreamento dos valores.
Após a Operação Carbono Oculto, que desvendou como o PCC usava método similar, a Receita Federal alterou as regras, obrigando as fintechs a identificarem os titulares de cada depósito.
Robinson Barreirinhas, secretário especial da Receita Federal, revelou que cerca de 50 fundos de investimento mantidos pelo FIDD Group, com sede em São Paulo, eram utilizados para ocultar o beneficiário final do dinheiro ilícito.
Conexão internacional e lavagem de dinheiro
O esquema tinha ramificações internacionais significativas. Muitas empresas que apareciam como proprietárias dos fundos estavam registradas em Delaware, nos Estados Unidos, onde as companhias têm vantagens fiscais e não precisam divulgar os nomes de seus donos.
No Texas, a Refit adquiriu uma empresa que intermediou a venda de R$ 12,5 bilhões em combustíveis para o Brasil. Auditores identificaram que pelo menos 15 empresas ligadas ao grupo, abertas nos EUA, remeteram mais de R$ 1 bilhão para compra de negócios e imóveis no Brasil.
Cláudio Ferrer de Souza detalhou o mecanismo de lavagem: "O dinheiro vai para o exterior e depois esse mesmo dinheiro volta. Então, por exemplo, uma aquisição de um prédio de R$ 50 milhões foi feita justamente como patrimônio pessoal desses beneficiários finais do esquema criminoso".
Empresa se defende e investigações continuam
O FID Group emitiu nota declarando que segue as normas das autoridades brasileiras e que já encerrou o relacionamento com os clientes mencionados nas investigações.
Enquanto isso, as operações contra o Grupo Refit continuam, com a Polícia Federal já tendo apreendido mais de R$ 2 milhões em espécie e esmeraldas durante as investigações, que apontam a empresa como o maior devedor de impostos de São Paulo.