O sistema financeiro brasileiro foi sacudido por uma operação de grande porte que revelou transações bilionárias com fortes indícios de irregularidades entre o Banco de Brasília (BRB) e o Banco Master. A Operação Compliance Zero, conduzida pelo Ministério Público Federal e Polícia Federal, resultou na prisão do dono do Master, Daniel Vorcaro, e no afastamento do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa.
Investigações se aprofundam no Tribunal de Contas
Nesta quarta-feira (19), o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) recebeu nova denúncia do Ministério Público de Contas solicitando o aprofundamento das investigações sobre as transações entre as duas instituições financeiras. A representação inclui indícios de que o BRB comprou carteiras de crédito fraudadas para contornar restrições impostas pelo Banco Central e viabilizar a aquisição do Banco Master.
Esta é a terceira representação recebida pelo TCDF neste ano sobre as tratativas para compra do Banco Master pelo BRB. O novo pedido deve tramitar em conjunto com os processos já abertos anteriormente.
Transações bilionárias e indícios de fraude
Segundo documentos obtidos pela TV Globo que embasaram a operação, o BRB injetou R$ 16,7 bilhões no Banco Master entre 2024 e 2025. Desse total, pelo menos R$ 12,2 bilhões envolvem operações com fortes indícios de fraude.
Os valores são astronomicamente superiores aos limites regulatórios. O BRB só poderia se expor em cerca de R$ 753 milhões com um único cliente, mas o valor repassado ao Banco Master foi mais de 20 vezes maior que o permitido.
O juiz Ricardo Leite, que autorizou as prisões, destacou em sua decisão que podem ter sido adotados "procedimentos escusos pela gestão do BRB para viabilizar e promover a liquidez do Banco Master".
Esquema envolvendo CDBs e créditos inexistentes
As investigações revelaram um complexo esquema que envolvia:
- Emissão de R$ 50 bilhões em CDBs pelo Banco Master com juros acima do mercado
- Falta de comprovação de liquidez para honrar os títulos
- Aplicação do dinheiro em ativos que não existiam através da empresa Tirreno
- Venda desses créditos inexistentes ao BRB por R$ 12,2 bilhões
Essas transações ocorreram no mesmo período em que o BRB tentava comprar o Banco Master com apoio do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, mas encontrava resistência do Banco Central.
Consequências imediatas e riscos ao erário
As medidas já tomadas incluem:
- Prisão de Daniel Vorcaro e outros seis suspeitos
- Afastamento do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, e um dos diretores
- Pedido do MP para que o TCDF impeça novos pagamentos ao Banco Master
O Ministério Público de Contas alerta para riscos aos cofres públicos do DF, já que o governo distrital é acionista majoritário do BRB com 71,92% das ações. A representação também aponta falhas de governança e ausência de diligência prévia adequada por parte do banco público.
A análise completa da representação pelo plenário do TCDF ainda aguarda data para ser marcada, enquanto as investigações da Operação Compliance Zero continuam apurando as razões pelas quais o BRB desconsiderou irregularidades graves nas operações com o Banco Master.