A Polícia Federal prendeu na última quinta-feira (4) o assessor financeiro Frederico Goz Biagi, de 53 anos, suspeito de desviar pelo menos R$ 11 milhões em investimentos de seus clientes. Entre as vítimas está um idoso de 65 anos, dentista de Campinas (SP), que perdeu mais de R$ 1 milhão, quantia acumulada durante toda a sua vida.
Engenharia social e vítimas vulneráveis
Segundo o delegado da Polícia Federal de Ribeirão Preto, Marcellus Henrique de Araújo, o idoso prestou um depoimento emocionante, relembrando como confiou suas economias ao investigado. "Ele comentou que era o dinheiro da vida dele, que ele tinha depositado em confiança ao investigado para poder investir e que hoje, aos 65 anos, está praticamente sem nada e sem como reconstruir a vida dele", relatou o delegado.
As investigações revelaram que Biagi selecionava suas vítimas com base no poder econômico, focando em idosos e mulheres da sociedade de Ribeirão Preto. A estratégia envolvia uma verdadeira engenharia social, na qual ele se aproximava afetivamente das pessoas para transformar o vínculo em negócio. Ele chegou a manter relacionamentos amorosos com algumas mulheres, fazendo planos de casamento e até se batizando em uma igreja, tudo para ganhar confiança e desviar valores.
Operação Stop Loss e esquema fraudulento
A prisão de Frederico Biagi ocorreu em Poços de Caldas (MG), durante a Operação Stop Loss. A PF também cumpriu três mandados de busca e apreensão em Ribeirão Preto, São Paulo e Rio de Janeiro. O esquema fraudava o Sistema Financeiro Nacional de múltiplas formas.
Biagi deve responder por pelo menos seis crimes, incluindo gestão fraudulenta, apropriação de recursos de investidor e inserção de informações falsas em documentos. Somadas, as penas podem variar de 10 a 37 anos de reclusão. A defesa do assessor informou que não comentará as acusações.
O modus operandi envolvia:
- Prometer rendimentos exorbitantes inicialmente, depois reduzindo para cerca de 2% ao mês para parecer mais plausível.
- Utilizar o dinheiro dos clientes em operações de day trade de alto risco, resultando na perda dos recursos.
- Fornecer demonstrativos financeiros falsos, fazendo as vítimas acreditarem que seus investimentos estavam rendendo.
Vítimas pagavam impostos sobre dinheiro que não existia
Um dos aspectos mais cruéis do golpe, destacado pelo delegado Araújo, era que as vítimas eram mantidas em erro com demonstrativos falsos de rendimentos. Elas, por sua vez, sendo pessoas honestas, declaravam esses rendimentos fictícios à Receita Federal e pagavam tributos sobre um dinheiro que já não possuíam.
"A vítima, além de não ter o dinheiro, ainda pagava um tributo em cima de um rendimento que ela não teve", completou o delegado. Entre as vítimas identificadas estão médicos, aposentados e até ex-namoradas e sócios do próprio assessor, totalizando pelo menos dez pessoas que já prestaram depoimento.
O caso expõe a vulnerabilidade de investidores, especialmente idosos, a esquemas de confiança construída de forma manipulativa. A PF segue com as investigações para apurar a extensão total dos desvios e localizar outros possíveis recursos desviados.