A Polícia Civil do Rio Grande do Sul desencadeou uma grande operação nesta quinta-feira (4) para desarticular uma organização criminosa suspeita de aplicar um golpe milionário em produtores rurais através de consórcios fraudulentos. A ação, concentrada em Passo Fundo, na Região Norte do estado, resultou na prisão de cinco pessoas e no cumprimento de 16 mandados judiciais.
Esquema fraudulento movimentou bilhões
De acordo com as investigações, o esquema de estelionato está em operação desde 2016 e já teria causado um prejuízo de aproximadamente R$ 30 milhões a mais de 200 vítimas em todo o Brasil. Somente no ano de 2025, o grupo criminoso movimentou cerca de R$ 3 bilhões em vendas fraudulentas de consórcios.
Os investigadores explicam que os criminosos abordavam comerciantes e agricultores, oferecendo cartas de crédito de consórcio supostamente contempladas. Para ter acesso ao benefício, as vítimas precisavam depositar cerca de 10% do valor combinado. Após o pagamento, descobriam que a carta não havia sido contemplada e perdiam todo o dinheiro investido.
Em alguns casos, os golpistas davam um passo além na artimanha. Após o depósito, ligavam para a vítima instruindo-a a afirmar, em uma gravação, que sabia que a carta não era contemplada. Essa declaração, induzida pelos criminosos, era depois usada como prova para tentar isentá-los de responsabilidade.
Vida de luxo financiada pelo crime
O dinheiro desviado das vítimas era utilizado para sustentar um padrão de vida extremamente luxuoso. A polícia identificou que os investigados adquiriam imóveis de alto padrão no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Dois apartamentos à beira-mar, um em Balneário Camboriú e outro em Porto Belo, estão avaliados em cerca de R$ 20 milhões.
Durante a operação, foram apreendidos 40 veículos de luxo, incluindo sete modelos da marca Porsche, com valor total estimado em R$ 15 milhões. Além disso, os valores bloqueados em bens e criptomoedas somam impressionantes R$ 170 milhões. Registros apreendidos com os suspeitos mostram passeios de lancha e viagens internacionais, comprovando o uso do dinheiro do golpe para financiar mordomias.
Vítimas e envolvimento de policiais militares
Entre as pessoas lesadas pelo esquema, há casos de produtores rurais que perderam quantias vultosas, chegando a R$ 2 milhões em prejuízo individual. Um caso emblemático é o de uma produtora rural que, após sofrer perdas com as enchentes no RS, buscou as cartas de crédito para recuperar seu negócio. Ela foi enganada repetidamente, sendo induzida a fazer novos pagamentos com a promessa falsa de finalmente ser contemplada.
A operação também mira três policiais militares que supostamente atuavam como seguranças particulares da organização criminosa. Imagens de câmeras de segurança mostram dois deles, pai e filho, saindo de um condomínio de luxo e entrando em uma viatura identificada. A Polícia Civil também obteve registros do trio fazendo a escolta dos líderes do esquema.
Até o momento, os nomes dos suspeitos e das seis empresas de consórcio envolvidas não foram divulgados pelas autoridades. A investigação segue em andamento para apurar toda a extensão da fraude e identificar outras possíveis vítimas.