A Polícia Federal desmantelou nesta semana um esquema financeiro bilionário que resultou na prisão do banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Banco Master. A operação Compliance Zero revelou uma fraude estimada em R$ 12 bilhões envolvendo operações suspeitas entre o Banco Master e o Banco de Brasília (BRB).
A prisão no aeroporto
Na noite de segunda-feira (17), por volta das 22h, Daniel Vorcaro foi preso pela Polícia Federal no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. O banqueiro de 42 anos, natural de Belo Horizonte, encontrava-se no terminal de aviação executiva prestes a embarcar em um jatinho com destino à ilha de Malta, no Mediterrâneo.
Segundo as investigações, Vorcaro chegou de helicóptero ao aeroporto pouco depois que um consórcio liderado pelo grupo de investimento Fictor Holding Financeira anunciou a compra do Banco Master. A PF considera a hipótese de que o anúncio fazia parte de um plano de fuga do país.
Os advogados de Vorcaro contestam essa versão, afirmando que o destino final do voo seria Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde o banqueiro trataria da venda do Master.
Operação de grande escala
Na terça-feira (18), a operação continuou com a prisão de outros envolvidos no esquema. Entre os detidos estão Ângelo Antônio Ribeiro da Silva, um dos sócios do Banco Master, e três diretores da instituição: Alberto Felix de Oliveira Neto, Augusto Ferreira Lima e Luiz Antônio Bull. Dois executivos de uma fintech também foram presos.
A Polícia Federal cumpriu 25 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Brasília. Durante as ações, os agentes apreenderam joias, relógios e vinhos importados de alto valor. Na residência de Augusto Lima, um dos diretores presos, foi encontrado R$ 1,6 milhão em dinheiro vivo.
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, confirmou a dimensão do esquema durante depoimento à CPI do Crime Organizado: "Nessa operação de hoje, a fraude é de R$ 12 bilhões. Eu não sei quanto que nós vamos conseguir bloquear", declarou.
O esquema bilionário
As investigações revelaram que o Banco Master emitiu aproximadamente R$ 50 bilhões em títulos de CDBs, prometendo juros acima das taxas de mercado. Desse total, R$ 12 bilhões estariam descobertos porque os ativos da empresa tinham baixa liquidez.
Para esconder o problema de liquidez, o Master simulou ter aplicado parte dos R$ 50 bilhões em ativos que não existiam, comprando créditos fictícios de uma empresa chamada Tirreno. Imediatamente após essa operação fictícia, o banco vendeu esses mesmos créditos ao BRB, que pagou R$ 12,2 bilhões pelo negócio, sem a documentação adequada.
O juiz Ricardo Leite, em decisão obtida pela TV Globo, afirmou que "elementos da investigação apontam que a solução do Grupo Master para aportar recursos capazes de cobrir esse rombo consistiu em se associar, ilicitamente, a uma sociedade de crédito direto" com o objetivo de inflar artificialmente seu patrimônio.
Envolvimento do BRB e consequências
A Polícia Federal investiga por que o BRB desconsiderou irregularidades graves nas operações e adquiriu carteiras de crédito que representavam 30% de todos os seus ativos. As transferências vinham sendo realizadas desde 2024, mesmo diante de ressalvas do Banco Central.
A decisão judicial aponta "indícios veementes da prática do crime de gestão fraudulenta dos gestores do BRB em conluio com os diretores do Banco Master". De acordo com as investigações, a vontade inicial do BRB sempre foi emprestar dinheiro ao Banco Master, mas não pôde fazê-lo diretamente devido a limitações de exposição.
A Justiça determinou o bloqueio de bens do Banco Master, do BRB e dos envolvidos nas fraudes para tentar recuperar os R$ 12,2 bilhões do prejuízo calculado. Também foi determinado o afastamento do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, indicou Celso Eloi, servidor da Caixa Econômica, para assumir o cargo.
Os advogados de Daniel Vorcaro divulgaram nota afirmando que, desde o anúncio da venda do Banco Master, estão à disposição para cooperar com as autoridades, fornecer informações e participar de audiências.