Banco Master: fraude de R$ 12 bi e prisão de Daniel Vorcaro
Fraude de R$ 12 bi no Banco Master: Vorcaro preso

Crise no Banco Master: a queda de um império financeiro

O Banco Central decretou a liquidação do Banco Master e a Polícia Federal prendeu seu controlador, Daniel Vorcaro, em uma operação que expõe uma das maiores fraudes do sistema financeiro brasileiro. As investigações apontam prejuízos de R$ 12 bilhões em um esquema que envolve aquisições suspeitas e investimentos de difícil comprovação.

Operação da PF e as prisões

Daniel Vorcaro foi detido na noite de terça-feira no aeroporto de Guarulhos, quando tentava deixar o Brasil em um de seus jatos particulares. Junto com ele, outros dirigentes e sócios do conglomerado Master também foram presos. Paulo Henrique Costa, presidente do BRB (banco do Distrito Federal), foi outro nome importante detido, acusado de acobertar o rombo ao se dispor a comprar 49% do Master em março.

Vorcaro alega que viajava para o exterior para fechar detalhes da venda do conglomerado para o Fictor e um grupo de investidores dos Emirados Árabes Unidos, que pagariam R$ 3 bilhões pelo controle. No entanto, as investigações da PF buscam determinar se essa negociação era real ou apenas uma cortina de fumaça para sua fuga do país.

As aquisições suspeitas e o alerta da KPMG

Desde a aprovação da compra do Banco Voiter pelo Master em 11 de abril de 2024, o Banco Central já deveria ter percebido os problemas na instituição. Mesmo assim, em agosto do mesmo ano, o Master recebeu autorização para adquirir o conglomerado do Will Bank.

A auditoria da KPMG no balanço de dezembro de 2024 já alertava sobre investimentos problemáticos. Segundo o relatório, o Master tinha muitos investimentos e lucros originários de fundos que aplicavam "substancialmente em ativos que não são ativamente negociados". A mensuração de valores e ganhos estava "sujeita a um nível maior de incerteza", especialmente em relação ao risco de crédito.

O lucro líquido anunciado de R$ 1,067 bilhão e as Provisões para Devedores Duvidosos de R$ 578 milhões eram, segundo a KPMG, de difícil comprovação.

Impacto nos investidores e fundos de pensão

Os CDBs do Master pagavam mais de 40% acima do rendimento médio dos DIs desde o final do ano passado, atraindo investidores seduzidos pelos retornos extraordinários. O FGC (Fundo Garantidor de Créditos) tem R$ 41 bilhões com origem no Master, e há discussões no mercado sobre a possibilidade de honrar apenas o principal investido, sem os juros extras.

Fundos de pensão do setor público também foram atingidos:

  • Rio Previdência (funcionários do RJ): R$ 2,6 bilhões em papéis do Master
  • Prece (Cedae): mais de R$ 200 milhões
  • Dois fundos de pensão do governo da Bahia também investiam fortemente nos papéis do Master

As investigações podem atingir diretamente mais de 50 pessoas, incluindo envolvidos nos governos do DF, RJ e Bahia.

O iceberg financeiro e a reação da CVM

Os Fundos de Investimento Creditórios (FIDC) do Master, cujo montante geral do mercado é de quase R$ 900 bilhões, representam um risco sistêmico para dezenas de instituições que copiavam seu modelo. A compra dos dois bancos teria sido uma forma de mascarar lucros e eventuais perdas.

Em resposta à crise, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) publicou o Ofício-Circular nº 8/2025, que estabelece novas regras para o mercado de fundos no Brasil, incluindo FIDC, FII e Fiagro, buscando maior transparência e controle sobre esses investimentos.

O caso do Banco Master revela as fragilidades do sistema de fiscalização e os riscos de investimentos que prometem retornos acima do mercado, servindo como alerta para todo o setor financeiro brasileiro.