Violência digital atinge 9 milhões de mulheres no Brasil; saiba como denunciar
Perseguição virtual é crime: 9 milhões de mulheres vítimas

Uma em cada dez mulheres brasileiras com 16 anos ou mais foi vítima de algum tipo de violência no ambiente digital nos últimos doze meses. O dado alarmante, que representa quase nove milhões de pessoas, é parte de uma pesquisa inédita realizada pelo Datasenado em parceria com a Nexus e obtida com exclusividade pelo Bom Dia Brasil.

O retrato da violência virtual no Brasil

O estudo, que ouviu mais de 21 mil entrevistadas em todo o país, é o primeiro a analisar de forma aprofundada o cenário de violência de gênero no espaço digital. As agressões mais comuns relatadas pelas mulheres incluem mensagens ofensivas e ameaçadoras enviadas repetidamente, invasão de contas e dispositivos pessoais e a divulgação de mentiras nas redes sociais.

Os pesquisadores alertam que a banalização desses ataques é tão grande que muitas vítimas passaram a considerá-los como algo normal. Esse fenômeno, somado à própria dinâmica da internet, faz com que as mulheres demorem mais para perceber e, principalmente, para denunciar a violência sofrida.

"Os números levaram a gente a pensar o quanto essa violência digital está naturalizada. Muitas vezes, um insulto no meio digital é relevado", reflete a pesquisa. Maria Teresa Prado, coordenadora do Observatório da Mulher contra a Violência do Senado Federal, é enfática: "Ela tem que denunciar essa violência. Nós temos leis para coibir a violência digital".

Do insulto ao terror: um caso real de perseguição

A pesquisa ganha rosto e voz no relato de uma jovem de 22 anos, que prefere não ser identificada por temer seus agressores. Ela é perseguida há quatro anos. O terror começou em 2022, após um post em que ela defendia a memória da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018. A publicação chamou a atenção de um grupo hostil.

Os insultos nas redes sociais foram apenas o começo. Dois anos depois, a violência escalou para um patamar aterrador. Ela passou a receber diariamente ameaças de estupro e morte. Seus agressores utilizaram inteligência artificial para criar montagens que a mostravam nua ou em cenas pornográficas. A perseguição ultrapassou as barreiras do virtual: encomendas indesejadas começaram a chegar em sua casa pelo correio.

"É limitador, sabe, muito limitador. Porque você tem medo de sair, de te expor de alguma forma, tirarem foto sua, de estarem te perseguindo", desabafa a jovem. Ela descreve o nível de desumanização promovido pelos agressores: "O nível de desumanização desses homens, desses grupos é demais e, em nenhum momento, eles te veem ali como um ser humano, como uma pessoa que tem sentimento, que é vivo, que sente".

Caminhos para combater e se proteger

O estudo do Datasenado aponta que, além da denúncia, é fundamental criar mecanismos de proteção para as mulheres no ambiente digital. Isso envolve desde a maior segurança oferecida pelas próprias plataformas até a investigação rápida e a responsabilização efetiva dos agressores. Educar meninos desde cedo sobre o respeito às mulheres também aparece como parte essencial da solução.

Para romper o ciclo de violência e impunidade, é crucial saber como e onde denunciar. As vítimas podem procurar qualquer delegacia da Polícia Civil ou unidades especializadas, como as Delegacias da Mulher e de Crimes Virtuais.

As denúncias também podem ser feitas pela internet, por meio da central nacional da associação civil SaferNet Brasil. Outro canal fundamental é a Central de Atendimento à Mulher, o Ligue 180. O serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, a partir de Brasília, e a ligação é gratuita. Qualquer pessoa pode ligar para denunciar ou buscar informações sobre todos os tipos de violência. Quem liga é atendido por outras mulheres qualificadas no acolhimento de vítimas de violência de gênero.