A Polícia Civil do Piauí deflagrou a segunda fase da Operação Laverna, mirando influenciadores digitais suspeitos de promover rifas ilegais e plataformas de jogos como o "Jogo do Tigrinho". Entre os alvos está o influenciador João Vitor Almeida Pereira, conhecido como Vitor Mídia, que acumulou um patrimônio de aproximadamente R$ 3 milhões em apenas três anos.
Ascensão financeira surpreendente
Durante coletiva de imprensa realizada na sexta-feira (21), o delegado Ayslan Magalhães revelou detalhes impressionantes sobre o caso. Vitor Mídia trabalhava como pedreiro em 2022 e, em um curto intervalo de tempo, começou a promover rifas de carros e motos nas redes sociais.
"Na operação de hoje apreendemos dois carros de luxo na casa dele e da mãe dele. Ele teve uma ascensão patrimonial muito rápida. Comprou uma casa de R$ 500 mil e abriu uma loja de venda de motos", afirmou o delegado.
De acordo com as investigações, o influenciador movimentou R$ 1,1 milhão por meio de microcréditos que variavam de R$ 0,02 a R$ 20, enviados por mais de 3 mil pessoas - padrão característico de rifas clandestinas.
Métodos de atuação dos influenciadores
A investigação descobriu que os influenciadores utilizavam estratégias elaboradas para atrair seguidores. Eles publicavam vídeos manipulados mostrando supostos ganhos, realizavam sorteios e empregavam discurso motivacional com links personalizados.
Essas práticas induziam os seguidores ao erro e criavam expectativas irreais de lucro. Um dado que chamou atenção foi revelado pelo delegado Matheus Zanatta, superintendente de Operações Integradas da SSP: um mesmo ganhador venceu uma das rifas duas vezes, com probabilidade estatística entre 1 em 1 milhão e 1 em 10 milhões.
Investigação e consequências legais
O delegado Ayslan Magalhães explicou que o sistema de rifas só é legal quando o valor arrecadado é destinado a entidades beneficentes e quem promove também deve ser uma entidade sem fins lucrativos. Vitor Mídia alega que o dinheiro era enviado para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), em Parnaíba.
"Quem promove a rifa também tem que ser uma entidade sem fins lucrativos, mas, até o momento, a pessoa teve, sim, finalidade financeira. A gente vai investigar se o dinheiro foi repassado e quanto foi enviado para a Apae", destacou Magalhães.
A análise financeira, somada à falta de declaração de renda e ao uso de empresas associadas a pagamentos digitais ligados a jogos ilegais, reforçam indícios de ocultação patrimonial, dissimulação de recursos, evasão fiscal e vantagem econômica ilícita.
Os demais investigados na operação são:
- Sara Costa dos Santos (Sarah Brenna): movimentações de R$ 1.311.784,32
- Lucimayre Magalhães Brito: R$ 213.606,60
- Luiz Carlos Morfim Júnior: R$ 637.783,14
- Antônio Shaul Hinminisses de Araújo Soares (marido de Sarah): R$ 1.664.582,01
Sarah, Lucimayre e Luiz Carlos são suspeitos de divulgar o "Jogo do Tigrinho" e plataformas semelhantes. Os suspeitos podem responder por crimes como estelionato, indução do consumidor a erro, loteria não autorizada e lavagem de dinheiro.
A Justiça determinou o bloqueio dos valores nas contas bancárias, a apreensão dos passaportes e a remoção de conteúdos ilegais na internet. O g1 tentou contato com os investigados e aguarda retorno.