Adolescente de 14 anos usa IA para criar nudes falsos de alunas em Indaiatuba
IA usada para criar nudes falsos de adolescentes em SP

Adolescente de 14 anos usou IA para criar imagens íntimas falsas de colegas

A Polícia Civil de Indaiatuba, no interior de São Paulo, desvendou um caso que envolveu o uso de inteligência artificial para a criação de fotografias de nudez falsas de alunas de uma escola particular da cidade. O autor das montagens é um adolescente de apenas 14 anos, que confessou ter agido sozinho.

Investigação cruzou fronteiras e chegou a Luxemburgo

A investigação coordenada pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) precisou notificar um site sediado em Luxemburgo, país europeu localizado a aproximadamente 9,6 mil quilômetros de distância de Indaiatuba. Foi nesse site que o jovem criou uma página com as montagens digitais de meninas entre 13 e 18 anos.

Pelo menos 14 vítimas procuraram a Polícia Civil para registrar queixa. Em dois meses de trabalho, os investigadores conseguiram rastrear a origem do material, mesmo com as imagens já tendo sido deletadas. A empresa que hospedava o site colaborou com as autoridades, fornecendo informações sobre o e-mail utilizado para cadastro e os dados de IP.

A delegada Fernanda Hetem, titular da DDM, explicou que a polícia requisitou informações ao Google e à operadora de celular do suspeito. Com a empresa de tecnologia, foi identificado que o e-mail usado para criar o site havia sido excluído, enquanto a operadora de celular ajudou a localizar dois endereços em Indaiatuba.

Operação simultânea levou à identificação do autor

O rastreamento apontou para dois imóveis praticamente vizinhos, e a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão de forma simultânea em ambos os locais. A estratégia foi adotada para evitar que um suspeito pudesse alertar o outro.

Durante as buscas, a equipe identificou que apenas um adolescente estava envolvido nas montagens. O jovem teria utilizado o Wi-Fi da casa de uma amiga, que não tinha conhecimento das atividades ilícitas, o que explicou o IP do outro imóvel ter sido identificado na investigação.

"Fizemos o cumprimento dos mandados simultâneo, até para um não avisar o outro, mas em um deles o adolescente já confessou que tinha sido ele, deu as razões dele. Ele mesmo admitiu, e disse que a menina da outra casa não sabia de nada. Os pais dele também não imaginavam que tinha sido ele", relatou a delegada Fernanda Hetem.

Motivação: punir ex-amigas

Segundo o depoimento do adolescente à polícia, a ideia por trás das montagens seria "punir ex-amigas". O jovem explicou que criou uma conta com e-mail diferente e começou fazendo montagens de pessoas famosas.

Por questões relacionadas a uma escola onde estudou com as vítimas, ele teria ficado com raiva do comportamento de três ex-amigas e resolveu usar a inteligência artificial para criar as imagens falsas como forma de retaliação.

Para dificultar a identificação direta de sua autoria, o adolescente acabou produzindo imagens de várias outras alunas, além das três ex-amigas que seriam o alvo inicial.

Consequências e alerta sobre segurança digital

O adolescente foi levado à delegacia, prestou declaração e foi liberado na presença dos pais. O celular do menor foi apreendido e será encaminhado para perícia, onde especialistas devem recuperar todo o conteúdo, mesmo que tenha sido apagado.

O caso foi registrado como vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro e simular participação de criança ou adolescente em cena de sexo. A Vara da Infância e Juventude irá analisar o eventual cumprimento de medidas socioeducativas pelo adolescente.

A delegada Fernanda Hetem aproveitou o caso para fazer um alerta importante sobre a exposição de adolescentes nas redes sociais e a necessidade de acompanhamento parental.

"Uma imagem que você posta na internet, seja para mostrar que você está comendo um bolo, pode ser vista de outra maneira por homens adultos, pedófilos. Nesse caso, a montagem foi feita por um menor, mas a gente sabe que tem muita foto que cai na rede que são modificadas para conteúdo de abuso infantil. A gente tem que tomar cuidado com o que posta", alertou a delegada.

Hetem também destacou a importância de os pais que têm filhos com celular ou acesso às redes sociais conhecerem as senhas e acompanharem os acessos. "Os pais do adolescente que fez a montagem não sabiam o que o filho estava postando. Então, a gente tem de estar sempre de olho nos nossos filhos", completou.