Um técnico de enfermagem de 47 anos foi demitido por justa causa de um hospital em Santos, no litoral de São Paulo, após ter sido vítima de um golpe aplicado por um homem que se passava por médico. Sidnei Alves Monteiro, profissional com 18 anos de carreira, compartilhou sua frustração de estar desempregado durante o feriado de Natal, celebrado na última quinta-feira (25).
O Golpe e a Ação Inocente
O caso ocorreu no dia 12 de dezembro. Sidnei contou que atendeu uma ligação no ramal interno usado para comunicação entre funcionários. O golpista se apresentou usando o nome real de um dos médicos do centro cirúrgico e demonstrou conhecer detalhes de pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Por volta das 9h da manhã, o suposto médico pediu a numeração dos prontuários de alguns pacientes. Como não havia uma secretária disponível para ajudar e ele não estava habituado a tarefas administrativas, Sidnei tentou encerrar a chamada. Foi quando o golpista pediu que ele usasse seu celular pessoal para fotografar as capas dos prontuários, onde constavam apenas os números, sem dados sensíveis como telefones.
"Prestes a desligar o ramal, devido ao tempo que estava perdendo, o golpista pediu meu celular e pediu que eu fotografasse os prontuários com os números destes, e assim fiz inocentemente", afirmou o técnico, destacando que agiu de boa-fé.
As Consequências e a Demissão
O golpista tentou aplicar um golpe em uma das pacientes, que desconfiou do contato e acionou a direção do hospital. A paciente identificou o nome de Sidnei na foto do prontuário enviada pelo criminoso e o denunciou. Por volta das 16h do mesmo dia, o técnico foi chamado pela gerência de enfermagem.
O Hospital Beneficência Portuguesa de Santos emitiu uma nota detalhando os motivos da demissão por justa causa. A instituição afirmou que Sidnei descumpriu normas internas, especialmente a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e as diretrizes de segurança da informação e do paciente. Segundo o hospital, ele expôs dados pessoais, fotografou a tela do computador da instituição, usou seu celular pessoal para manter contato com o golpista e forneceu informações sobre um paciente de um setor diferente daquele onde atuava, extrapolando suas atribuições.
"Minha carreira de 18 anos foi manchada por eu levar o golpe, eu sou o culpado pelo golpe?", questionou Sidnei, que acredita na reversão da demissão na Justiça. "Não houve prejuízo financeiro a ninguém, somente a mim e a minha família", lamentou.
Impacto Pessoal e Busca por Justiça
A demissão, ocorrida às vésperas do Natal, teve um impacto emocional profundo no técnico e em sua família. Ele relatou sentir-se "triste e humilhado" e destacou a dor de lidar com a situação diante da filha de 7 anos. "Minha filha de 7 anos perguntou se o Papai Noel viria trazer o presente de Natal já que eu não teria dinheiro", contou.
Sidnei também expressou preocupação com sua recolocação no mercado de trabalho, por ser negro e Pessoa Com Deficiência (PCD) devido à visão monocular. No entanto, mantém a esperança. "Sei que há muitos pais de família desempregados e que nessa data se sentem incapazes, mas tenho fé de logo conseguir me recolocar", afirmou.
O caso foi registrado como estelionato no 2º Distrito Policial de Santos. A Polícia Civil informou que nenhuma das supostas vítimas registrou boletim de ocorrência e que não houve prejuízo financeiro comprovado. O Setor de Investigações Gerais (SIG) trabalha para identificar os responsáveis pelo golpe.