Bocas do Rio: música subterrânea revela história urbana de Presidente Prudente
Bocas do Rio: música subterrânea em Presidente Prudente

Quem passa pelo Parque do Povo em Presidente Prudente nem imagina que, sob os pés, um córrego canalizado ganha voz através da arte. Literalmente. A instalação Bocas do Rio — uma espécie de flauta gigante enterrada — transforma o fluxo da água em notas musicais aleatórias, criando uma sinfonia subterrânea que ecoa o passado e presente da cidade.

Quando o concreto canta

Não é magia, embora pareça. A obra, parte do projeto Córrego Oculto, usa princípios físicos simples (mas geniais): a água pressiona o ar dentro dos tubos de concreto, produzindo sons que variam conforme a vazão. "É como se o rio sussurrasse sua história", comenta um frequentador do parque, enquanto crianças tentam adivinhar as "notas secretas".

E que história! O Córrego do Veado — hoje invisível sob toneladas de asfalto — já foi protagonista na formação da região. Sua canalização, nos anos 1970, simbolizou o progresso, mas apagou parte da identidade local. Agora, a arte devolve parte dessa memória.

Arqueologia urbana sonora

  • 12 bocas musicais espalhadas por 200 metros
  • Sons aleatórios que variam com a chuva e o consumo de água
  • Interação pública: visitantes viram "maestros acidentais" ao tampar saídas

O projeto, assinado pelo coletivo Urbanoir, não é apenas arte pela arte. Ele questiona: até que ponto enterramos nossos rios — e com eles, nossas raízes? "A música é bonita, mas tem um gosto amargo de saudade", reflete uma moradora antiga, lembrando dos peixes que via na infância.

E você? Já parou para escutar o que as cidades escondem sob o concreto?