
Parece até contraditório, não é? Uma cidade que celebra a fartura nas mesas de botecos e restaurantes famosos, mas que paradoxalmente descarta uma montanha de comida perfeitamente consumível. O Rio de Janeiro, essa terra de contrastes tão vibrantes, desperdiça anualmente a bagatela de 408 mil toneladas de alimentos. Sim, você leu certo.
Dá até tontura pensar nesse número — que equivale a alimentar praticamente toda a população de Brasília por um ano. E olha que a gente nem está falando de restos de prato ou comida estragada, mas principalmente daqueles produtos que sequer chegaram às gôndolas dos supermercados ou às feiras livres.
O mapa da desigualdade alimentar
O estudo, desenvolvido pela associação civil sem fins lucrativos Viva Rio em parceria com a prefeitura, mapeou esse desperdício com uma precisão que impressiona. E os resultados? Bem, eles mostram que o problema não está distribuído igualmente pela cidade.
Zona Sul e Tijuca — sim, justamente aqueles bairros com maior poder aquisitivo — aparecem como os campeões absolutos do descarte. Lá, cada habitante joga fora cerca de 128 quilos de comida por ano. Uma verdadeira tragédia anunciada, considerando que temos milhares de cariocas passando fome nas comunidades vizinhas.
Os números que doem no bolso e na consciência
Vamos às contas que não mentem: enquanto a Zona Sul lidera com 20,4% do total desperdiçado, a Zona Norte responde por 19,5% e a Zona Oeste por 18,3%. A Baixada Fluminense, aquela região tão castigada pela falta de recursos, aparece com "apenas" 14,6% — o que ainda assim é assustadoramente alto.
E não pense que o problema está apenas nos lares cariocas. O comércio — principalmente supermercados, hortifrútis e feiras — responde por nada menos que 44% de todo esse desperdício. Restaurantes e serviços de alimentação contribuem com 16%, enquanto os próprios domicílios aparecem com 13%.
Uma luz no fim do túnel?
Mas nem tudo são más notícias. O estudo também identificou que 27% do total desperdiçado — aproximadamente 110 mil toneladas — poderiam ser recuperados com medidas relativamente simples. Estamos falando de alimentos que ainda estão próprios para consumo, mas que são descartados por pura falta de logística ou planejamento.
O prefeito Eduardo Paes já sinalizou que o assunto será tratado com a seriedade que merece. Afinal, como ele mesmo disse, "é inaceitável que tanta comida vá para o lixo enquanto tantos passam necessidade".
Enquanto as políticas públicas não chegam, fica a reflexão: o que cada um de nós pode fazer para mudar essa realidade? Às vezes, a solução começa bem mais perto do que imaginamos — dentro da nossa própria geladeira.