
Quem passa pelos corredores viários de Goiânia nos últimos meses deve ter notado algo diferente — e não estamos falando apenas do calor de quase 40 graus. A paisagem ganhou manchas verdes, um verde talvez demais para ser verdade. E de fato era. A grama sintética, aquela que prometia ser a solução milagrosa para a falta de água e a manutenção complicada, virou alvo de debate.
O prefeito Rogério Cruz resolveu quebrar o silêncio. E fez isso com uma sinceridade que, convenhamos, não é sempre comum no meio político. "Nem toda inovação funciona", soltou, quase como um suspiro de alívio. A frase, dita durante uma coletiva sobre outras obras, ecoou como uma confissão pública. O projeto-piloto, que instalou o material em canteiros da Avenida 85, no Setor Sul, e da Avenida São Carlos, no Parque Amazônia, simplesmente não colou.
O que deu errado?
Ah, a pergunta de um milhão de dólares. A ideia parecia brilhante no papel: um tapete verde eterno, resistente ao sol e à seca, que dispensaria irrigação e cortes frequentes. Mas a realidade, essa mestra cruel, mostrou suas garras. A grama artificial, ao contrário da natural, absorve e retém calor de uma forma absurda. Em dias de sol forte, a superfície chegava a ficar escaldante — um forno a céu aberto. Além do desconforto térmico, havia a questão da drenagem. Em vez de ajudar, em alguns pontos piorou a situação da água da chuva.
Não foi um fracasso total, é bom que se diga. A prefeitura argumenta que a iniciativa serviu como um grande aprendizado. "É assim que se governa: testando, arriscando e, quando necessário, recuando", ponderou um assessor, que preferiu não se identificar. A verdade é que a administração municipal gastou cerca de R$ 130 mil nesse experimento. Um valor que, para muitos, poderia ter sido investido em outras frentes.
E agora, José?
O futuro dos canteiros goianienses ainda é uma incógnita. A grama sintética instalada não será removida — ao menos por enquanto. Vai ficar por lá, servindo de lembrete constante de que nem toda solução moderna se adapta ao cerrado goiano. A intenção, segundo a prefeitura, é buscar alternativas. Talvez gramas naturais mais resistentes, talvez outros tipos de cobertura vegetal. O importante, parece, é não parar de buscar melhorias.
Fica a lição: inovar é preciso, mas nem sempre acertar é consequência. E olha, é até refrescante ouvir um gestor público admitir isso abertamente. Mostra uma humanidade que, muitas vezes, falta na política.