Tumba de Tutancâmon enfrenta sua maior ameaça em 3.300 anos
Um alerta grave foi emitido pela comunidade arqueológica internacional: a tumba do faraó Tutancâmon, localizada no Vale dos Reis em Luxor, encontra-se em seu estado mais frágil desde sua descoberta em 1922. A revelação vem de um estudo publicado em maio de 2025 na renomada revista científica Nature.
Rachaduras e umidade: os inimigos invisíveis
Pesquisadores da Universidade do Cairo identificaram que rachaduras estão se espalhando pelos tetos do monumento histórico, enquanto a umidade e fungos corroem lentamente os murais que resistiram por 3.300 anos. O professor Sayed Hemeda, da Faculdade de Arqueologia da Universidade do Cairo e autor principal do estudo, explica que o local "tem sido submetido a impactos de longo prazo, tanto por enxurradas repentinas quanto por uma falha geológica principal".
Segundo Hemeda, essas forças naturais "têm causado diferentes graus de instabilidade e danos, que vêm piorando com o tempo". A situação é particularmente preocupante porque a tumba foi construída com xisto de Esna, um tipo de rocha que expande e contrai com as variações de umidade, tornando-a especialmente vulnerável às condições ambientais.
Falha estrutural acelera deterioração
A pesquisa identificou uma falha estrutural crítica que atravessa o teto da entrada e das câmaras funerárias. Esta fissura permite a infiltração de água da chuva, acelerando o processo de corrosão e comprometendo a integridade estrutural do local histórico.
"O túmulo desenvolveu uma falha que atravessa o teto da entrada e das câmaras funerárias. Essa rede de rachaduras permite que a água da chuva penetre, corroendo e comprometendo a integridade do local", detalhou Hemeda em entrevista ao Daily Mail.
Evento histórico agravou situação
Os problemas atuais têm raízes em um evento específico: a enchente histórica de 1994 que submergiu várias tumbas do Vale dos Reis. As águas invadiram a tumba de Tutancâmon, elevaram drasticamente os níveis de umidade e provocaram a proliferação de fungos. Desde então, a integridade estrutural do local vem se deteriorando de forma contínua e aparentemente irreversível.
Simulações revelam pressão extrema
As simulações realizadas pela equipe do professor Hemeda mostram que o teto da câmara funerária está sob enorme pressão. A estrutura apresenta deformações e rachaduras milimétricas, resultado combinado do peso das montanhas acima da tumba e da expansão do xisto com a umidade.
O estudo alerta que a tensão acumulada é tão significativa que pode provocar novas fraturas se não houver intervenção urgente. A umidade resultante das enxurradas tem reduzido a resistência do xisto, favorecendo delaminações e descascamentos nas paredes decoradas.
"O descolamento dos tetos da antecâmara e da câmara funerária é resultado da combinação entre o enfraquecimento do xisto pela água e o esforço desigual nas camadas inferiores", explicou Hemeda na publicação da Nature.
Medidas urgentes são necessárias
O pesquisador recomenda medidas imediatas para conter o avanço das fissuras e preservar o patrimônio histórico. "O estudo conclui que reduzir as flutuações de umidade é essencial. Isso pode ser feito controlando a circulação de ar dentro e ao redor da tumba", afirmou.
Hemeda defende a implementação de um plano técnico de conservação permanente para as tumbas reais no Vale dos Reis. "As tumbas reais no Vale dos Reis exigem uma intervenção urgente e estudos científicos precisos para analisar os riscos e como mitigá-los", declarou ao Daily Mail.
Embora o colapso total "não deva ocorrer tão cedo", conforme alertou o especialista, o dano acumulado pode comprometer a tumba antes do esperado. "Há riscos atuais e futuros que afetarão sua integridade estrutural a longo prazo, e o túmulo talvez não dure mais milhares de anos, como foi construído para durar", concluiu Hemeda.