
O cenário é alarmante, pra não dizer desesperador. Enquanto muitos brasileiros acompanham as queimadas pela TV, os piauienses vivem essa realidade na pele — literalmente respirando fumaça durante boa parte do ano. Um levantamento recente, baseado em dados do Inpe, escancara uma verdade que insiste em se repetir: o Piauí figura como o sexto estado com mais focos de incêndio em todo o país na última década.
Pare pra pensar nisso: mais de 110 mil focos registrados entre 2015 e 2024. É como se cada um dos 3,2 milhões de habitantes do estado tivesse presenciado pelo menos 34 queimadas próximas durante esse período. Os números não mentem, mas também não contam toda a história — a fumaça que escurece o céu, o cheiro de queimado que impregna as roupas, o desespero dos animais tentando fugir das chamas...
O Cerrado Piauiense: Epicentro das Chamas
Se tem um lugar que sofre com essa situação, é o cerrado. Sozinho, esse bioma responde por impressionantes 70% de todos os focos detectados no estado. A gente até se pergunta: será que as pessoas realmente entendem a importância desse ecossistema? O cerrado não é só mato seco — é um berçário de águas, habitat de espécies únicas, e agora, um verdadeiro inferno em terra.
Os municípios de Bom Jesus, Baixa Grande do Ribeiro e Santa Filomena lideram esse triste ranking estadual. São lugares onde o fogo virou parte da paisagem — e do cotidiano. Mas cá entre nós, normalizar essa situação é um erro gravíssimo.
Ranking Nacional: Quem Queima Mais?
Olhando pro Brasil como um todo, a situação do Piauí se torna ainda mais preocupante quando comparada com outros estados:
- Pará e Mato Grosso seguem na liderança desse ranking nada honroso
- Maranhão, Amazonas e Tocantins completam o top 5
- Piauí aparece em sexto, mas com números que assustam
O que mais me preocupa nisso tudo? A sensação de que estamos virando espectadores da nossa própria destruição. Ano após ano, os mesmos números, as mesmas notícias, o mesmo ciclo vicioso de fogo e destruição.
Impactos que Vão Além da Fumaça
Não é exagero dizer que cada foco de incêndio representa uma pequena tragédia ambiental. A perda de biodiversidade é incalculável — quantas espécies de plantas e animais desaparecem sem que a gente nem saiba? A qualidade do ar piora drasticamente, afetando principalmente crianças e idosos. E tem o solo — que depois das queimadas fica pobre, compactado, quase estéril.
Um especialista que preferiu não se identificar me contou algo que ficou martelando na minha cabeça: "Estamos queimando nosso futuro para resolver problemas imediatos. É como vender os móveis da casa para comprar comida — funciona por um tempo, mas logo você fica sem casa e sem comida".
E pensar que muita gente ainda acredita que "queimar limpa o terreno". Que limpeza é essa que deixa tudo cinza e morto?
Para Onde Vamos Daqui?
A verdade é que os dados estão aí, disponíveis para quem quiser ver. O Inpe monitora, os pesquisadores estudam, as organizações alertam. Mas parece que falta algo fundamental: ação. Ação coordenada, ação eficiente, ação urgente.
Enquanto isso, o cerrado piauiense continua queimando. Os animais continuam fugindo. E as pessoas continuam respirando fumaça. Sexto lugar no ranking nacional de queimadas não é uma posição — é um grito de alerta que ecoa há dez anos. A pergunta que fica é: alguém está ouvindo?