
Era uma vez um peixe gigante — o pirarucu — que sustentava comunidades inteiras na Amazônia. Hoje, sua pele virou artigo de luxo em Paris e Milão, mas os pescadores que o capturam ainda vivem como há 50 anos. Ironia ou capitalismo selvagem? Difícil dizer.
O couro do "gigante das águas", como é chamado localmente, está sendo transformado em bolsas que custam mais que o salário anual de um ribeirinho. Marcas europeias pagam fortunas pelo material, mas o dinheiro parece evaporar antes de chegar às mãos calejadas dos pescadores.
Da selva para as passarelas
O processo é quase poético — se não fosse trágico:
- Pescadores arriscam a vida para capturar o pirarucu (que pode chegar a 3 metros!)
- O couro é tratado com técnicas ancestrais misturadas com alta tecnologia
- Designers globais transformam a matéria-prima em peças que custam até R$ 15 mil
E os protagonistas dessa história? Continuam remando contra a maré da pobreza. "A gente vê o peixe ir embora e o dinheiro nunca volta", desabafa um pescador de 62 anos, enquanto conserta redes furadas.
O jogo das cadeias globais
Especialistas apontam o dedo para as complexas cadeias de suprimentos. Entre o rio Amazonas e as boutiques de luxo, há uma série de intermediários que ficam com a maior parte do lucro. Alguns cálculos sugerem que menos de 8% do valor final retorna à região de origem.
— É como se a Amazônia fosse apenas um fornecedor de matéria-prima, nunca um parceiro de negócios — critica uma antropóloga que estuda o tema há década.
Enquanto isso, as comunidades assistem à valorização de seu recurso natural... de longe. Sem acesso direto ao mercado internacional e sem poder de barganha, eles continuam presos num ciclo de exploração que parece não ter fim.
Será que um dia essa história vai mudar? Ou o pirarucu vai seguir sendo mais valioso morto do que vivo para quem o protege?