
Numa conversa que misturou urgência climática com pitadas de ironia política, Marina Silva — aquela que não tem papas na língua — soltou o verbo em entrevista ao G1. A ministra do Meio Ambiente deixou claro: a COP30, que o Brasil vai sediar em 2025, não será mais um evento de "bla-bla-bla ambiental".
"Temos dois anos para transformar Belém num palco global da virada ecológica", disparou, enquanto ajustava os óculos com aquela cara de quem já viu promessas virarem fumaça. E olha que ela conhece o assunto — foram décadas vendo governos tratarem floresta como obstáculo ao desenvolvimento.
O que esperar da COP30?
Entre um gole de café (orgânico, claro), Marina esboçou o que chamou de "três pilares não negociáveis":
- Meta concreta para desmatamento zero — "Chega de prometer em 2060 o que podemos fazer em 2030"
- Fundo climático com dinheiro real — "Não adianta países ricos virem de jatinho dar lição"
- Participação indígena nos debates — "Quem conhece a Amazônia não está em gabinete com ar-condicionado"
Quando questionada sobre o recente aumento nos alertas de desmate, a ministra soltou um suspiro que dizia mais que discurso: "É como enxugar gelo com secador quente — mas estamos trocando o equipamento".
Os desafios (além do óbvio)
Numa hora em que até o café esfriou, Marina admitiu o elefante na sala: "Tem setor no governo que ainda acha que ambientalista é inimigo do progresso". E completou, com aquela mistura de paciência e exasperação típica de quem lida com a máquina pública: "Tento explicar que economia verde não é modismo — é sobrevivência".
Detalhe curioso: ela revelou que anda circulando com um infográfico no bolso — "pra quando algum ministro começar com 'mas e o agronegócio?'". A arte, diz ela, mostra como áreas preservadas aumentam produtividade no longo prazo.
E os céticos?
"Ah, esses..." — Marina revirou os olhos antes de contar que mantém uma pasta no celular só com respostas prontas para negacionistas climáticos. "Quando me dizem 'já houve aquecimento antes', pergunto se tratariam câncer com receita de 1850".
O tom ficou mais sério ao falar de ameaças a ativistas: "Não podemos normalizar que defender árvore vire profissão de risco". A fala veio carregada daquela convicção que só quem já viveu na pele conhece.
No final, ao ser perguntada sobre esperança, surpreendeu: "Tenho mais otimismo com os jovens do que com certos chefões de gravata". E arrematou, meio poeta, meio cientista: "O futuro não é linha reta — é manguezal que a gente tem que atravessar com as botas certas".